SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ
Pelos sacramentos da iniciação cristã - batismo, confirmação e eucaristia - são colocados os fundamentos de toda vida cristã. "A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom, mediante a graça de Cristo, apresenta uma certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos no batismo, são fortalecidos pelo sacramento da confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade”.
1º. BATISMO:
O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito ("vitae spiritualis ianua") e a porta que abre acesso aos demais sacramentos. Pelo batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: "Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo - O batismo é o sacramento da regeneração pela água na palavra“.
1214 - Ele é denominado batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar ("baptizein" em grego) significa "mergulhar", "imergir"; o "mergulho" na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita, como “nova criatura” (2 Cor. 5,17; Gl. 6,15).
1216 "Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento [catequético] têm o espírito iluminado...”. Depois de receber no batismo o Verbo, "a luz verdadeira que ilumina todo homem" (Jo 1,9), o batizado, "após ter sido iluminado" (Hb. 10,32), se converte em "filho da luz" (1 Ts. 5,51), e em "luz" ele mesmo (Ef. 5,8).
O batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. (...) Chamamo-lo; de dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados; batismo, porque o pecado é sepultado na água; unção, porque é sagrado e régio (tais são os que são ungidos); iluminação, porque é luz resplandecente; veste, porque cobre a nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é o sinal do senhorio de Deus.
1223 - Todas as prefigurações da antiga aliança encontram a sua realização em Cristo Jesus. Ele começa a sua vida pública depois de ter-se feito batizar por são João Batista no Jordão, e após a sua ressurreição confere esta missão aos apóstolos: "Ide, pois, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt. 28,19 - 20).
1229 - Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e uma iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente. Deverá sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho acarretando uma conversão, a profissão de fé, o batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística.
1237 - Visto que o batismo significa a libertação do pecado e do seu instigador, o diabo, pronuncia-se um (ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido com o óleo dos catecúmenos ou então o celebrante impõe-lhe a mão, e o candidato renuncia explicitamente a satanás. Assim preparado, ele pode confessar a fé da Igreja, à qual será "confiado" pelo batismo.
1238 - A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese (seja no próprio momento, seja na noite pascal). A Igreja pede a Deus que, pelo seu Filho, o poder do Espírito Santo desça sobre essa água, para que os que forem batizados nela "nasçam da água e do Espírito" (Jo 3,5)
1239 - Segue então o rito essencial do sacramento: o batismo propriamente dito, que significa e realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade através da confirmação no mistério pascal de Cristo. O Batismo é realizado da maneira mais significativa pela tríplice imersão na água batismal. Mas desde a antigüidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três vezes, a água sobre a cabeça do candidato.
1241 - A unção com o santo crisma, óleo perfumado consagrado pelo bispo, significa o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, "ungido" do Espírito Santo, incorporado a Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e rei.
1243 - A veste branca simboliza que o batizado "vestiu-se de Cristo" (Gl. 3,27): ressuscitou com Cristo. A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo, os batizados são "a luz do mundo" (Mt. 5,14).
1253 - “O batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade dos crentes. Cada um dos fiéis só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se requer para O batismo não é uma fé perfeita e madura, mas um começo, que é chamado a desenvolver-se. Ao catecúmeno ou a seu padrinho é feita a pergunta: "Que pedis à Igreja de Deus?’. Ele responde: "A fé!".
1254 - Em todos os batizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer após o batismo. É por isso que a Igreja celebra cada ano, na noite pascal, a renovação das promessas batismais. A preparação para o batismo leva apenas ao limiar da vida nova. O batismo é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da qual brota toda a vida cristã.
1255 - Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar o novo batizado, criança ou adulto, na sua caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial (“officium"). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento e na conservação da graça recebida no batismo.
1263 - Pelo batismo, todos, os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados não resta nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as seqüelas do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus.
1267 - O batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. "Somos membros uns dos outros" (Ef. 4,25). O batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da nova aliança, que supera todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos: "Fomos todos batizados num só Espírito para sermos um só corpo" (1Cor. 12,13).
1268 - Os batizados tornaram-se "pedras vivas" para a "construção de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo" (1Pd. 2,5). Pelo batismo, participam do sacerdócio de Cristo, da sua missão proféticas, régia; "sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa" (1Pd. 2,9). O batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis.
1269 - Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo (1Cor. 6,19), mas àquele que morreu e ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser "obediente e dócil" aos chefes da Igreja (Hb. 13,17) e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o batismo é a fonte de responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja: a receber os sacramentos, a ser alimentado com a Palavra de Deus e a ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da Igreja.
1274 - O "selo do Senhor" ("Dominicus character”) é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou "para o dia da redenção" (Ef. 4,30). “O batismo, com efeito, é o selo da vida eterna”. O fiel que tiver "guardado o selo" até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências do seu batismo, poderá caminhar "marcado pelo sinal da fé", com a fé do seu batismo, à espera da visão feliz de Deus - consumação da fé - e na esperança da ressurreição.
2º. SACRAMENTO DA CRISMA OU CONFIRMAÇÃO:
A presença e a ação do Espírito Santo se faz em todos os sacramentos, mas por excelência encontra-se no sacramento da crisma ou confirmação.
No Oriente, este sacramento é chamado de crismação ou crisma. O crisma, no masculino, é o óleo santo. Quando usamos a crisma queremos realçar o símbolo da unção com o óleo, portanto ao sermos crismados, somos ungidos pelo Espírito de Deus, para uma missão. (At. 10, 38).
No ocidente, como também no Catecismo da Igreja católica e documentos da Igreja, é usada a palavra confirmação, significa que todo cristão, fortalecido pelo Espírito, é capacitado a assumir sua vocação e missão de batizado, para que persevere até o fim no testemunho de Jesus Cristo.
“A confirmação aperfeiçoa a graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para enraizar-nos mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais sólida a nossa vinculação com a Igreja...”.(CIC 1316).
Apesar de duas definições, vemos que ambos tem razão de existir. Nos reforçam que somos convidados, pela ação do Espírito Santo, a confirmar nossos compromissos cristãos.
Durante os séculos, este sacramento sofreu mudanças. Vemos no livro dos Atos dos Apóstolos o testemunho da efusão do Espírito Santo, realizada sobre aqueles que “somente haviam sido batizados”. Na Igreja primitiva existe uma estreita relação entre batismo e crisma. A partir do século III a preparação para receber os sacramentos é bastante organizada através do catecumenato. Os que desejavam fazer um caminho de conversão e adesão à fé cristã eram adultos, portanto, com opção mais convicta.
Fausto de Riez, no século V, assim se expressa sobre este sacramento: “Pelo batismo, nos regeneramos para a vida; após o batismo, somos confirmados para a luta. No batismo somos purificados; após o batismo, somos fortificados”.
A separação do batismo e da crisma se dá a partir do século V se deu por vários motivos: a difusão do cristianismo, a generalização do batismo de crianças, o bispo não podia estar nas diversas comunidades afastadas de sua cidade-sede. Aos presbíteros dá-se a função
de batizar enquanto ao bispo, em outro momento, reserva-se a imposição das mãos e a unção do óleo.
Do século XII em diante é que se generalizou a idéia de que a imposição e a unção se caracterizavam como o sacramento da confirmação. Assim sendo, do que era uma
só coisa, fizeram-se duas. Aqui a idade para receber este sacramento passou a ser entre 7 e 12 anos.
O concílio de Florença (1439 - 1445) foi o primeiro dos concílios ecumênicos a afirmar que a confirmação é um dos sete sacramentos da Igreja.
O concílio Vaticano II (1962 - 1965) assim fala: “Pelo sacramento da confirmação vinculam-se mais perfeitamente à Igreja e recebem especial vigor do Espírito Santo, e assim ficam mais seriamente comprometidos como testemunhas verdadeiras de Cristo, a difundir e defender a fé por palavras e por obras” (Lumen Gentium 11).
Mais do que no passado, entendemos a importância deste sacramento ser assumido de forma opcional, livre de pressão ou sugestão. Portanto, quem tem a capacidade de optar são os adultos. Estes deveriam ser motivados para fazerem um caminho catecumenal, porque teriam capacidade para responderem diante da responsabilidade deste sacramento.
O catecumenato
Nos primeiros séculos da Igreja, a quem desejava receber algum sacramento era submetido a uma preparação catecumenal. Sem pressa e nem com o intuito de formar muitas pessoas ao mesmo tempo. Era um longo período de preparação, sendo “o catecumenato dos adultos, distribuído em várias etapas” (Sacrosanctum Concilium 64).
Nos tempos atuais, o concílio Vaticano II através do RICA (Rito de Iniciação Cristã de Adultos), nos deram condições de entender os caminhos de iniciação ou reiniciação na fé:
- para jovens e adultos não batizados, crismados...
- para crianças e adolescentes que chegaram à idade da catequese organizada sem ter recebido o batismo.
- Para jovens e adultos que receberam os sacramentos e como adultos descobrem a fé que nunca assumiram.
- Para afastados que querem voltar à Igreja.
É preciso descobrir formas para suprir os males provocados pela pouca consciência que nossos cristãos têm em assumir os sacramentos, pois são muitos que os recebem, e poucos procuram seguir e conhecer Jesus Cristo, revelando a falta da evangelização.
Temos hoje uma realidade diferente da ideal. A ausência de propostas para uma formação continuada, como uma pós-crisma, está gerando uma massa de pessoas que não se preocupam com compromissos.
A celebração
O sacramento da confirmação é administrado nos nossos dias um pouco diferente de como era no tempo dos apóstolos. O bispo - ou o seu representante autorizado - estende as mãos sobre o confirmando e invoca para ele o dom do Espírito Santo. Os sinais e gestos significativos do sacramento da Crisma são:
- O símbolo é o óleo é um elemento muito conhecido no dia-a-dia das pessoas. Ele aparece desde o nascer até o morrer, como remédio, alimento, cosmético... Na nossa liturgia é utilizado com freqüência: no batismo, na crisma, na unção dos enfermos, na ordenação episcopal e presbiterial. O óleo é um elemento essencial na celebração da crisma. A própria palavra crisma significa ungir;
- As palavras pronunciadas na unção do crisma (óleo): “Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus”, mostram-nos claramente o efeito da crisma. Pela imposição da mão e a unção, o batizado recebe, num sentido mais pleno, a força do Espírito Santo para assumir mais plenamente Cristo em sua vida e, portanto, ser para os outros e a comunidade o “bom odor”: do amor, da justiça, da fraternidade, do perdão, da paz e a força na luta por mais vida para todos;
- O ministrante é o bispo,
- O gesto: a imposição das mãos e a unção em forma de cruz na fronte e
- Os participantes que são todos os batizados não confirmados, chamados de crismandos e também a comunidade.
Imposição das mãos
Impor as mãos tem um profundo sentido bíblico: consagração a Deus, cura e envio.
No Antigo Testamento temos várias citações em que aparece este gesto. Jacó impõe as mãos sobre seus netos, os filhos de José, para abençoa-los (Gn. 48,14 - 15). Moisés, inspirado por Deus, impõe as mãos sobre Josué. (Nm. 27,18 - 23). Em Dt. 34, 9 Josué é confirmado como homem de sabedoria e de liderança, após a imposição das mãos: “E Josué, filho de Nun, estava cheio de sabedoria, porque Moisés havia colocado suas mãos sobre a cabeça dele”.
No Novo Testamento vemos Jesus usando estes gestos em diversas circunstâncias:
- Impõe as mãos para curar: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe a mão e ela viverá” (Mt. 9,18).
- Impõe as mãos para abençoar: “Foram trazidas crianças para que lhes impusesse as mãos”( Mt. 19,13; Mc. 10,14).
NOS ATOS DOS APOSTÓLOS:
“Na Samaria, Pedro e João transmitem o Espírito Santo pela imposição das mãos” (At. 8, 17). Na escolha dos sete primeiros diáconos, estes “foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles” (At. 6,6).
Na crisma, a imposição das mãos ainda que não seja o gesto essencial, conforme declaração de Paulo VI (Constituição apostólica sobre o sacramento da confirmação), pertence contudo à sua perfeição e leva a compreender que este gesto, feito pelo ministro da Igreja, dá o sentido de transmissão do Espírito de Deus como força, coragem, sabedoria, vivência e testemunho da fé.
A unção com o óleo
No Antigo Testamento, a unção significava força, poder, cura, saúde, alegria, bom odor, beleza e consagração. Reis, sacerdotes, profetas eram ungidos como instrumentos para bem conduzir o povo e para defender o direito e a justiça.
No Novo Testamento, Cristo é o ungido de Deus por excelência. Ele foi ungido, não com óleo, mas com o Espírito Santo e com poder. O crismado recebe a “marca”, o selo do Espírito Santo. Como sinal de que somos pertencentes a Deus. Jesus mesmo declarou-se marcado com o selo do Pai (Jo 6,27). “Aquele que nos fortalece convosco
em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor. 1,21 - 22).
Cristo não é um nome próprio. É um título. Significa Messias, Ungido de Deus, Rei. Jesus ficou “cheio do Espírito Santo” (Lc. 3,22; 4,1) e foi enviado para uma missão (Lc. 4,14 - 21).
Aos discípulos Jesus promete enviar o Espírito Santo para lhes dar a força para serem suas testemunhas (At. 1,8).Todo crismado, ao ser ungido, assume a missão de defender o direito e a justiça, especialmente dos mais fracos e oprimidos. Portanto, será sempre um profeta que anunciará, ou denunciará, no ambiente onde estiver, a presença ou a ausência de Deus.
O Espírito de Deus
A Bíblia e a Liturgia nos falam muitas vezes do Espírito de Deus, ou do Espírito Santo, mas é difícil fazer uma idéia sobre esta pessoa divina.
As imagens que a Bíblia usa – fogo, vento, água, pombinha – são imagens que indicam movimento, fluidez, liberdade, ou seja, imagens que lembram a impossibilidade de determinar o Espírito Santo. Por isso, não conseguimos ter uma idéia fixa, pronta, perfeita, sobre Ele, como as temos mais claras sobre o Pai e o Filho.
A tradição da Igreja o chama de laço de amor entre Pai e Filho.
Sendo amor, já fica difícil de conceituar. O amor não se define, mas é vivido, testemunhado, isto é, expresso na prática em ações. Nele se realiza de maneira eterna, plena e acabada, o ensinamento de Jesus: “quem perder a sua vida, vai ganha-la” (Mc. 8,35; Lc. 9,24).
Por isso, só quem experimenta o amor-serviço, o amor-entrega e o amor doação poderá ter uma idéia – ainda que pálida – de quem é o Espírito Santo.
O Espírito Santo nos dá a força de vida e missão. Jesus declara: “O Espírito do Senhor está sobre mim”. Dizendo isto, assume a missão de ser o anunciador do Reino aos pobres. Por isso, valorizou as mulheres, perdoou os pecadores, curou os doentes, trouxe alegria e sentido de vida aos marginalizados. Mostrou-se sempre homem de ternura e compaixão, aproximando Deus ao povo e o povo a Deus.
O livro dos Atos nos apresenta a ação do Espírito Santo efetuada na ação dos Apóstolos e seguidores de Jesus. O Espírito de Deus os impulsionou para serem homens e mulheres de coragem, entusiasmo, garra, força no anúncio da Palavra. Não desanimaram nunca diante das dificuldades. Foram testemunhas fiéis de Jesus diante das multidões e nos tribunais.
Ainda hoje, como aconteceu aos Apóstolos (At. 2,3 - 4), o Espírito Santo desce “como que em línguas de fogo” sobre os discípulos do Senhor Jesus, enchendo-os de seu poder, para entusiasmá-los na pregação do Evangelho, para viverem no ardor de missionários de Cristo.
Como percebemos, nos Atos dos Apóstolos Lucas nos mostra o Espírito Santo como protagonista da missão da Igreja. Os discípulos, possuídos pelo Espírito, deixam de lado o medo e a insegurança, partem para todos os lugares da terra para o anúncio do Evangelho aos povos e edificam a Igreja, a comunidade, onde todos são acolhidos.
O Espírito do Senhor, em nosso meio, é sopro de vida, inspiração para o bem, coragem profética, força para os desanimados, construtor de comunhão, vivência do amor, ternura nas relações...
Quando nos referimos ao Espírito Santo sempre tomamos como referência os sete dons: sabedoria, inteligência, conselho, ciência, fortaleza, piedade e temor de Deus.
Eles são inspirados no texto do profeta Isaías (11,2 - 3). O Novo Testamento assume esta profecia na pessoa de Jesus Cristo, o Messias prometido. Ele seria possuído pelo Espírito de Deus e a partir de sua força, praticará um reinado alicerçado na justiça e na paz, conforme os dons recebidos.
O número sete no contexto bíblico é simbólico. Significa universalidade, totalidade, perfeição. Os dons do Espírito são inúmeros, portanto, ao falar em sete, podemos dizer que recebemos todos os seus dons.
São Paulo, em Gálatas 5,22 - 23, fala nos ‘frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si’. Estes frutos provêm de um projeto de vida que todo cristão é chamado a perfazer. Isto não significa que os teremos de uma hora para outra.
Mas, a vida do cristão é um constante converter-se ao crescimento da fé, e um comprometimento para gerar estes frutos na convivência do dia-a-dia.
Podemos dizer que os "dons são qualidades dadas por Deus que capacitam o ser humano para seguir com gosto e facilidade os impulsos divinos, para tomar a decisão acertada em situações obscuras e para reprimir as forças do orgulho, do egoísmo e da preguiça, que se opõem à graça de Deus".
Um pouco sobre os dons do espírito:
Ex.: Deus é Pai de todos; em Jesus, Filho de Deus, somos irmãos...
O sacramento da Crisma tem apresentado, nestes últimos anos, muitos desafios. Vejamos alguns:
- sacramento pouco valorizado como compromisso dentro da comunidade cristã;
- adequação de uma idade mais apropriada para entender e assumir este sacramento;
- tempo e formas de preparação, entendendo a catequese como processo;
- catequistas com uma preparação mais adequada;
- comunidades pouco entusiastas e motivadas para cativar e acolher os que querem continuar uma caminhada de fé;
- catequese crismal desligada dos problemas e aspirações dos crismandos;
- vivência e testemunho das famílias que pouco empolga ou motiva seus filhos;
- educação da fé vista como obrigatoriedade, tradição, ou ainda responsabilidade apenas do/a catequista;
- a realidade presente em nossa sociedade, que valoriza o momentâneo, o passageiro, o que traz algum benefício, e não o que leva a assumir algum compromisso permanente;
- desengavetar as pastorais para fazer um planejamento em conjunto e realizar um trabalho em parcerias (catequese, liturgia, juventude, missão, vocacional, familiar...)
Precisamos cada vez mais de cristãos convictos de sua fé, para vive-la intensamente dentro da vocação que Deus lhe indicar. O dom do Espírito Santo torna aqueles que o recebem capazes de torná-los “sal da terra e luz do mundo” (Mt. 5,13 - 14), fazendo-os firmes no comprometimento com a paz, a justiça, a solidariedade. Ele é força, alegria, esperança, amizade, comunhão, e ele atua através das pessoas (inclusive daquela que não tem fé), dos sinais dos tempos, das situações políticas e dos desafios históricos.
Quando as pessoas ficam muito doentes, Jesus dá outro sinal de seu amor, participando de sua tristeza. Elas recebem, então, o Sacramento da Unção dos enfermos, aproximando-os mais da graça de Deus.
II - Celebração
III - Ministro da Confirmação
IV - Quem pode receber a confirmação
V - Padrinhos
VI - Registro da confirmação
VII - Preparação
testemunhos de fé e vivência cristã;
3º. EUCARISTIA - PRIMEIRA COMUNHÃO:
O SACRIFÍCIO
Todas as religiões giram em torno do sacrifício, cujo significado cada vez mais se afasta do original. É que, culturalmente, mudou tanto de sentido que não mais reflete a mesma realidade. Por causa disso, nem mesmo um dicionário atual registra aquilo que correspondia ao seu significado, principalmente entre os judeus ou israelitas. Pelo menos biblicamente tem um sentido bem mais profundo até mesmo que o, "a grosso modo" perceptível, sentido de "sacri-ficar" = "ficar-sagrado".
Quando Jesus a ele se referiu ou o insinuou, confundiu os chefes religiosos e os de seu povo, seja por ocasião da "expulsão dos vendilhões do Templo" (Jo 2,13-22), seja por ocasião do Anúncio da Eucaristia, ao dizer-se "comida" (Jo 6,50-52). No primeiro caso Jesus não tinha nenhum direito de fazer o que fez, eis que, não pertencendo à Tribo de Levi ou à Casa de Aarão, não era sacerdote e não lhe competia a administração do Templo. Além de tudo isso, aquela área fora destinada para o que lá se praticava, qual seja, a troca de moeda estrangeira e a venda de animais, para as oferendas, a fim de que os judeus e os da "diáspora" pudessem cumprir os seus votos e deveres religiosos. Em si, nada havia de errôneo no que lá se fazia e, por causa disso, em face de sua atitude, dois fatos acontecem. Primeiro, "os sacerdotes e escribas" perguntam a Jesus "com que autoridade fazia estas coisas" (Mt. 21,23), e "que sinais lhes mostraria para assim agir" (Jo 2,18), e, por segundo, o Evangelista "recorda que os discípulos pensaram" que agia assim porque "o zelo pela casa de seu Pai o dominara" (Jo 2,17 / Sl 69,10). A resposta de Jesus foi por demais desconcertante, tanto que os seus discípulos só a compreenderam após a sua Ressurreição. Desafiara a "destruição do Templo e a sua reconstrução por Ele em três dias" ... "referindo-se ao seu próprio Corpo" (Jo 2,18-22), com o que iria se tornar o único sacrifício. Tornava-se assim tudo aquilo obsoleto, sem sentido e, então, "fazendo da Casa do Pai uma casa de comércio" (Jo 2,16), pela perda do objetivo a que se destinara. No segundo caso, ao dizer que "meu corpo é verdadeiramente comida", confunde os judeus de tal forma que, após dizerem "como pode este homem nos dar a sua carne para comer" (Jo 6,52), "o abandonam" (Jo 6,66).
O sacrifício tanto fazia parte da compreensão cultural israelita, que estava impregnado em seus hábitos ou costumes, até mesmo os especificamente não-religiosos. Mesmo quando participavam de uma refeição comum ou trivial, era-lhes necessário "derramar o sangue na terra" (Lv. 17,13s; Dt. 12,16.23), a abster-se do "impuro" (Lv. 11,1) e a seguir determinadas normas de "purificação" (Mc 7,4), sem o que não deveriam tomar alimento. Percebe-se que toda refeição tinha algo de sagrado e a idéia de sacrifício era-lhe vinculada pelo comer que nela se pratica. O seu uso, mesmo ao tempo de Cristo, já era milenar, eis que a Bíblia, apesar de não informar a sua origem, relata ter sido ele a causa da desgraça de Caim, que matou Abel porque "Deus agradou-se da oferenda dele (em "sacrifício") e não da sua" (Gn. 4,3-8). Relata também que Noé o ofereceu quando do término do Dilúvio (Gn. 8,20) e, a partir de Abrão, desde a Promessa, registra o seu uso como forma de expressão da fé em Iahweh (Gn. 12,7 e 12,8). Prossegue com a Aliança então contraída com Abraão, e com os demais Patriarcas Isaac e Jacó (Gn. 17,4-14; 26,3-24; 28,13-15) que a ratificaram (Gn. 12,7.8; 26,25; 28,17-22). E, em virtude dessa mesma Aliança, torna-se o centro gravitacional do culto. De Jacó adveio o povo israelita, formado pelas doze tribos oriundas de seus doze filhos. Moisés, descendente de um deles, da Tribo de Levi, confirma e repete essa Aliança, agora com todo o povo, no Monte Sinai, selando-a também com o sangue de um sacrifício (Ex. 24,1-8).
O sacrifício torna-se essencial ao culto, para significar, realizar e atualizar a união de Iahweh-Deus com o Seu Povo pela Aliança. Após a Instituição da Páscoa (Ex. 12), que era inicialmente uma comemoração familiar, institui-se o sacerdócio, indispensável para a celebração dele (Hb 8,3), separando-se para o seu exercício a Casa de Aarão (Ex. 28-29), "figura" do que Cristo fará quando da Instituição da Eucaristia, na inauguração da Páscoa Cristã, instituindo os Apóstolos para que a celebrassem "em sua memória" (Lc. 22,19-20 / 1Cor. 11,23-25). O Sacerdócio Pleno da Casa de Aarão e o Auxiliar constituído pelo restante da mesma Tribo de Levi, completam a organização religiosa e de cúpula de Israel, e se tornam um centro de unidade de todo o Povo de Deus pela consagração, significação e difusão da santidade de Iahweh entre as demais tribos, por meio deles (Lv. 21,8), medianeiros entre o Povo e Iahweh.
Em outra ocasião Jesus se refere ao sacrifício ao dizer que "é o altar que santifica a oferenda" (Mt. 23,19). É que, desde o Sinai, o altar era "ungido", tal como os "sacerdotes", com o "Óleo da Unção" (Ex. 30,25 - 30), preparado de acordo com normas do próprio Iahweh, em virtude do que "santificava tudo que o tocasse":
"Oferecerás pelo altar um sacrifício pelo pecado, quando fizeres por ele a expiação ("com sangue"), e o ungirás para consagrá-lo. (...); assim o altar será santíssimo e tudo que o tocar, será santificado" (Ex. 29,36 - 37).
Um novo elemento aparece aqui, com o rito do sacrifício pelo pecado, a expiação, que tem como integrante essencial o sangue que expia (Lv. 17,11), sem o qual não há remissão (Hb. 9,22). Ao que se conclui que, pela unção sagrada se santifica o altar e o sacerdote, completando-se a eficácia do ato com o sangue do sacrifício pelo pecado (Lv. 6,17-22 - Hb. 9,22). E, a partir desta Aliança, organizou-se o ritual, sabendo-se que sem altar, sacerdote, sangue e vítima (= hóstia) não há sacrifício, nem se consegue a santificação (Hb. 9,19-22), um de seus objetivos. Jesus resume tudo isso numa frase apenas.
Também, somente poderia participar do sacrifício quem estivesse em estado de pureza legal (Lv. 7,20-21; 11,44-45) e de santidade. Caso algo as comprometesse, o israelita deveria purificar-se antes, conforme os rituais legais (Lv. 11,25.28.32.40). No caso da santidade comprometida havia os sacrifícios para a remissão: o holocausto e o sacrifício de expiação ou de reparação ou pelo pecado. Têm em comum que o ofertante impunha as suas mãos na cabeça da vítima perfazendo assim a substituição dele por ela (Gn. 22,13), e o sacerdote completava o ritual a partir do oferecimento do sangue (Lv. 1,4-5). No holocausto a vítima (ou hóstia) era toda queimada, nenhuma de suas partes era comida por ninguém; já, nos sacrifícios pelo pecado, algumas partes eram comidas pelo sacerdote apenas (Lv. 6,19-23), e outras queimadas, significando a "participação e satisfação" do próprio Deus (Lv. 7,1-10 / Gn. 15,17). Havia ainda o sacrifício de comunhão ou refeição sagrada, do qual todos "comem" (Lv. 3,1-7), cada qual a sua parte: o ofertante e seus familiares ou amigos, o sacerdote e o próprio Deus, "aspirando a oferenda queimada em perfume de suave odor a Iahweh" (Lv. 3,5):
"Iahweh falou a Moisés e disse: ‘Ordena aos filhos de Israel o seguinte: Tereis cuidado de me trazer no tempo determinado a minha oferenda, o meu manjar, na forma de oferenda queimada de perfume agradável" (Nm. 28,1).
É São Paulo quem melhor nos esclarece do fundamento teológico de toda a instituição, ao dizer:
"Aqueles que comem as vítimas sacrificadas, não estão em comunhão com o altar?" (1Cor. 10,16 - 18).
Deduz-se destas palavras que pelo sacrifício se estabelece íntima comunhão entre o Ofertante, o Altar e Deus, com a expiação do pecado pelo sangue. Assim, quando se fala em "altar", se fala em "vítima" e em "sacerdote"; quando se fala em "sacerdote" se fala em "Deus" e no "sangue que expia"; quando se fala em "sangue que expia" se fala em "vítima ou hóstia" de que se alimenta em comum e em "santificação"; e, quando se fala em "santificação", se fala em "comunhão" de pessoas, a partir da "comunhão" com "altar" formando-se uma "comunidade" de todos com "Deus".
Além da substituição há outra conotação cultural do sacrifício israelita que é necessário mencionar. É que não deixa de ser muito curiosa a distribuição das partes da vítima do sacrifício (a serem "comidas"), entre o ofertante, o sacerdote e Iahweh, com a queima do "pão de Deus" (Lv. 21,8; Nm. 28,1). Mesmo as oferendas ou dízimos estavam sujeitos a essa distribuição sacrificial, sendo entregues num ritual onde uma parte apenas era "comida":
"Em relação a Iahweh, vosso Deus... buscá-lo-eis somente no lugar... escolhido... para aí colocar o seu nome e fazê-lo habitar. Levareis para lá os vossos holocaustos e vossos sacrifícios, vossos dízimos e os dons de vossas mãos, vossos sacrifícios votivos e vossos sacrifícios espontâneos, os primogênitos de vossas vacas e das vossas ovelhas. E comereis lá, diante de Iahweh, vosso Deus,... vós e vossas famílias... (...). Não poderás comer em tuas cidades o dízimo do teu trigo, do teu vinho novo e do teu óleo, nem os primogênitos das tuas vacas e ovelhas, nem algo dos sacrifícios votivos que hajas prometido, ou dos sacrifícios espontâneos, ou ainda dons da tua mão. Tu os comerás diante de Iahweh, teu Deus, somente no lugar que Iahweh, teu Deus, houver escolhido, tu, teu filho, tua filha..." (Dt. 12,4-18; leia-se ainda Dt. 12,11-12; 14,22-26).
Da citação acima vê-se que somente no lugar indicado por Deus é que se podia comer os sacrifícios, incluído como um deles as oferendas constituídas pelos primogênitos do gado, pelas primícias das plantações, vinho, óleo, pão, pelos dons etc. É de se observar que as oferendas ou dízimos não podiam ser "totalmente comidos", mas apenas "uma parte deles", sabendo-se que pertenciam por direito aos sacerdotes (Nm. 18,9.20.23-24). Fossem "todos comidos" nada se lhes entregaria. Somente "uma parte" era objeto da "santificação sacrificial", entregando-se o "todo" no Templo. Nessa perspectiva, é São Paulo quem esclarece da outra concepção vigente, fazendo com que se entenda melhor o alcance do sacrifício, qual seja a existência de uma solidariedade da parte com o todo, de modos que "à santificação da parte corresponde a santificação do todo":
"E se as primícias são santas, a massa também o será; e se as raízes são santas, os ramos também o serão" (Rm. 11,16).
Fundamentou-se naturalmente no que se prescreveu a respeito das primícias da massa do primeiro pão a ser preparado em Israel, qual seja:
"Quando tiverdes entrado na terra para a qual eu vos conduzo, devereis oferecer uma oferenda a Iahweh, tão logo comais do pão dessa terra. Como primícias da vossa massa separareis um pão; fareis esta separação como aquela que se faz com a eira. Dareis a Iahweh uma oferenda do melhor das vossas massas" (Nm. 15,18 - 21). "Cada dia de sábado serão colocados, permanentemente, diante de Iahweh. ...; pertencerão a Aarão e seus filhos, que os comerão no lugar santo, pois é coisa santíssima para ele, ..." (Lv. 24,8 - 9).
A EUCARISTIA É "SACRIFÍCIO"
Viu-se que toda e qualquer oferenda se reduzia a um sacrifício, pelo qual se buscava a comunhão com Deus, significada pela manducação, por cada qual, da parte da vítima oferecida e em uma refeição sagrada. A manducação da parte traduzia a santificação e a comunhão estabelecida de toda a oferenda, dos participantes dela e do ofertante, e Iahweh-Deus.
Com base nessa comunhão é que os primeiros cristãos consideravam a Eucaristia um Sacrifício, tal como o próprio São Paulo o diz:
"Considerai o Israel segundo a carne. Aqueles que comem as carnes sacrificadas, não estão em comunhão com o altar? Que quero dizer com isto? Que a carne sacrificada aos ídolos seja alguma coisa? Ou que os ídolos mesmo sejam alguma coisa? Não! Mas aquilo que os gentios imolam, eles o imolam aos demônios, e não a Deus. Ora, não quero que entreis em comunhão com os demônios. Não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios" (1Cor. 10,18-21).
Esta perícope não teria sentido não fosse a concepção sacrificial da Eucaristia ou Mesa do Senhor. É exatamente pelo fato da "comunhão com o altar", que se estabelece pela manducação da vítima nele santificada, que não se podia participar dos sacrifícios pagãos, como e onde se estabelece a "comunhão com os demônios", também pela manducação, fato incompatível com a "comunhão com o Senhor" no "sacrifício Eucarístico". E, não poderia ser de outra forma, eis que Jesus havia já dito:
"Eu sou o Pão Vivo descido do céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. O Pão que Eu darei é a minha carne para a vida do mundo" (...) Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que comer de mim viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. ...; quem come deste pão viverá para sempre" (Jo 6,51-58).
É necessário esclarecer aqui que os Evangelistas não se detiveram em explicar o que lhes era peculiar culturalmente. Assim, as características de um sacrifício não foram narradas, bem como o motivo pelo qual os ouvintes entenderam assim ou de outro modo, o anúncio que Jesus então fazia, eis que do conhecimento de todos o que escreviam.
Por outro lado, quando Ele diz "não tereis a vida em vós" remete a outro trecho onde anunciou que "Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10), tal como havia esclarecido: "..., mas é meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo" (Jo 6,32-33); e, confirmado, que "Eu sou o Pão vivo descido do céu", "quem comer deste pão viverá eternamente" e "o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo" (Jo 6,51). Ao ouvirem Jesus afirmar que "se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o meu sangue não tereis a vida em vós", assustam-se. Compreenderam que Jesus anunciava que iria entregar a sua própria carne para ser "realmente comida" em um sacrifício, não tendo feito uso de metáfora ou símbolo ou muito menos de uma parábola. Assim o fizesse não o teriam abandonado (Jo 6,66). Os discípulos não o abandonam quando se dissera "luz" (Jo 8,12), "porta" (Jo 10,7), "a ressurreição e a vida" (Jo 11,25), "o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6), "a verdadeira vide" (Jo 15,1), afastaram-se somente quando se disse "carne, comida". O motivo não pode ser outro que o de comunicar-lhes de que seria a vítima de um sacrifício. Foi essa idéia que não suportaram, abandonando-O. Apesar disso Jesus, desafiando os que lhe ficaram fiéis, pergunta-lhes "se também queriam ir embora" (Jo 6,67), como os outros fizeram, confirmando assim a exatidão da conclusão a que chegaram os dissidentes: - Jesus estava realmente anunciando o "próprio sacrifício". Os que "ficaram" também confirmam com sua resposta o que foi por todos entendido: "... Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus" (Jo 6,68-69). É que Jesus se disse "aquele que, em sendo comido no sacrifício, santifica", ou seja, "a vítima ou a hóstia", "o Santo de Deus"! Apesar da séria dificuldade ensejada, - pois perguntam: "a quem iremos?" (Jo 6,67), - creram em Jesus. Naturalmente não teria havido nenhum óbice, fosse uma ou outra figura de linguagem então usada.
São João Evangelista coloca, significativamente, o Anúncio da Eucaristia logo em seguida à Multiplicação dos Pães, após a qual ocorreu sério desencontro. Ora, os Evangelistas não escreveram nada à toa, nem a disposição dos assuntos foi aleatória, sem motivo. Assim, quando João registra que os opositores de Jesus o desafiaram com o Maná, indica o motivo, o teor e a evocação do debate, e qual o significado que a Multiplicação dos Pães adquiriu para os Apóstolos, tal como ensinado pelo próprio Jesus. É que, após o milagre, protestaram os dissidentes:
"...: Que sinal realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes Pão do Céu a comer’ " (Jo 6,30-31).
Queriam dizer com isso que Moisés fizera muito maior milagre, alimentando o Povo de Deus no deserto, durante quarenta anos, do que "uma simples distribuição de pães e peixes para cinco mil pessoas", tal como acontecera ali. Jesus lhes dá a resposta e, como de seu costume, contesta-os doutrinando:
"Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o Pão do Céu, mas é meu Pai quem vos dá o verdadeiro Pão do Céu; porque o PÃO DE DEUS é o Pão que desce do Céu e dá VIDA ao mundo" (Jo 6,32-33).
Assim Jesus identifica o VERDADEIRO PÃO DO CÉU como o PÃO DE DEUS, QUE DESCE DO CÉU E DÁ VIDA AO MUNDO, o que não deixa de ter referência clara com o Maná, agora aperfeiçoado pelo "pleno cumprimento" (Mt. 5,17) que Ele próprio lhe imprime, por cujo meio DÁ VIDA AO MUNDO. O Maná, por si só, não possuía essa virtude vivificante, tendo sido dado para alimentá-los, tão somente, mesmo que material e espiritualmente, como resposta de Iahweh às murmurações do Povo de Israel:
"Antes fôssemos mortos pela mão de Iahweh na terra do Egito, quando (...) comíamos PÃO com fartura! (...) Iahweh disse a Moisés: ‘Eis que vos farei chover PÃO DO CÉU; sairá o povo e colherá a porção de cada dia..." (...) "Isto é o Pão que Iahweh vos dará para vosso alimento" (Ex. 16,3-4.15).
"Todos comeram o mesmo alimento espiritual" (1Cor. 10,3).
Assim, tal como o Maná é o PÃO DO CÉU e ALIMENTO, da mesma forma a vítima do sacrifício recebe a mesma denominação, tal como se vê na recomendação de Iahweh com respeito aos sacerdotes:
"Serão consagrados a seu Deus e não profanarão o nome do seu Deus, porque são eles que apresentam as oferendas queimadas a Iahweh, O PÃO DO SEU DEUS, e devem estar em estado de santidade. (...)
"Tu o tratarás como santo, pois oferece o PÃO DO TEU DEUS" (Lv. 21,6 - 8).
Ora, quando se fala em "alimento e pão" se fala em "sacrifício ou refeição sagrada", donde se deduz a que Jesus também se refere ao mencionar o "PÃO DO CÉU OU PÃO DE DEUS", manifestando quem Deus daria para ser vítima para a vida do mundo, recordando-se da missão dos sacerdotes desde sua instituição, ainda no deserto, agora os substituindo (Hb. 9,11-14). Pois, a vítima imolada num sacrifício (ou a "oferenda queimada a Iahweh") era considerada "Pão ou Alimento de Deus", aqui e em outros lugares (destacando-se: Lv. 1,9; 3,3.11.16; 21,17.21; Nm. 9,13;28,1). Também o Maná, da mesma forma que a Vítima dos Sacrifícios, era conhecido simplesmente por "PÃO DO CÉU" ou "ALIMENTO" (‘espiritual’, diz São Paulo), como nos textos acima transcritos. Não foi sem motivo que Jesus faz referências ao PÃO DE DEUS e ao PÃO DO CÉU (Jo 6,33.58), na discussão que travou, identificando-se com ambos e mostrando as diferenças "cumpridas" por Ele (Mt. 5,17):
"Este é o PÃO QUE DESCEU DO CÉU, ELE NÃO É COMO O QUE OS PAIS COMERAM E PERECERAM; QUEM COME ESTE PÃO VIVERÁ PARA SEMPRE" (Jo 6,58).
Além disso, existem aspectos na narrativa da Multiplicação dos Pães em São João (6,1-15) que a tornam bem distinta da dos demais Evangelhos, seja situando-a "próxima à Páscoa, a festa dos judeus" (6,4), seja tratando os que se alimentavam como convivas de uma refeição, seja pelo debate ocorrido a respeito do Maná, seja pelo gesto de Jesus que, "tomando os pães, dá graças" (6,11), tal como na Instituição da Eucaristia (Lc. 22,19 / 1Cor. 11,24). Também, no que evidencia se tratar de um banquete ou de refeição sagrada, o "convite" que transparece quando Jesus diz "onde compraremos pão para alimentá-los" (6,5) e "fazei que se acomodem pelo chão" (6,10), numa acomodação para os "amesendados" (6,10.11 ), - ‘fala como um anfitrião’; na ação de graças peculiar a uma refeição comum ou sagrada ou ao sacrifício de comunhão; bem como, "no recolhimento dos doze cestos do que restou", por se tratar de "coisa santificada" (Ex. 29,37 - Jo 6,12 - 13). Não há outro motivo para se recolher a sobra de uma refeição!
Por outro lado, João também relata que: "Os judeus murmuravam, então, contra ele, porque dissera: ‘Eu sou o PÃO descido do céu" (Jo 6,41).
Fosse alguma figura de linguagem não haveria motivo para isso. "Murmuravam" porque a afirmação foi muito séria, Jesus se referia a si mesmo e eles o entenderam. Jesus nada corrige e ainda prossegue mais incisivo:
"Eu sou o PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU. Quem comer deste PÃO viverá eternamente. O PÃO que eu DAREI é a minha carne para a VIDA DO MUNDO" (Jo 6,51).
Jesus usa o futuro "DAREI a minha carne para a vida do mundo", anunciando a futura doação, seja na Instituição da Eucaristia seja na Cruz, pelo que, da mesma forma, falando sempre numa concretização a se realizar, após a altercação novamente advinda (6,52), é mais incisivo:
"Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que comer de mim viverá por mim" (Jo 6,53 - 57).
Neste ponto e ao finalizar o debate, diz especificamente e se identifica ao Maná, o Pão que desceu do Céu: "Este é o PÃO que desceu do céu. Ele não é COMO O QUE os pais comeram e pereceram; QUEM COME ESTE PÃO VIVERÁ PARA SEMPRE" (Jo 6,58).
Quando João narra tal acontecimento com tantos detalhes e diz que "estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus" (6,4), relaciona-o diretamente com Ela. É que Jesus estava anunciando e começando então o que iria se "cumprir" nela. Só se pode concluir então que a Multiplicação dos Pães é o "Anúncio da Eucaristia", UM SACRIFÍCIO EM QUE A VÍTIMA "SERÁ" O PRÓPRIO JESUS.
A EUCARISTIA E A PÁSCOA
A Páscoa foi instituída quando e em comemoração da saída do Povo de Deus do Egito e deveria ser comemorada em família, como uma espécie de refeição sagrada, por ser uma festa e um sacrifício (Ex. 12,25-28 / Nm. 9,13), presidida pelo pai, que atuava como sacerdote. Posteriormente, com a centralização do culto, na reforma de Josias, passou a ser imolada no Templo pelo sacerdote, que derramava o sangue no altar, prosseguindo-se o cerimonial em família ou com amigos ou parentes, em outros lugares (Dt.16,5-7 / 2Cro. 30,15-17; 35,10-14), assim vigorando ao tempo de Cristo. Algumas significações se incorporaram ao cerimonial tais como, dentre elas, além da de um banquete, a de libertação e a de Aliança. A libertação que impregna a celebração da Páscoa não se resume ao aspecto político, de um povo em busca de sua realização nacional, mas tem o sentido especificamente religioso que inaugura a formação do "Povo de Iahweh-Deus", a partir da Aliança com Abraão, conforme vários trechos:
"Eu farei de ti um grande povo..." (Gn. 12,2). "... teus descendentes serão estrangeiros num país que não será o deles... (...) ... sairão com grandes bens" (Gn. 15,13-14). "(‘Jacó’) Não temas descer ao Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação" (Gn. 46,3). "Deus lembrou-se da sua Aliança com Abraão, Isaac e Jacó" (Ex. 2,24)."Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito... (...) Por isso desci a fim de libertá-lo..., e para fazê-lo subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa..." (Ex. 3,7-8).
E, da mesma forma, como Moisés anuncia:
"Iahweh disse a Moisés: ‘Farei vir mais uma praga ainda contra o Faraó e contra o Egito. Então ele vos deixará partir (...) e ele até mesmo vos expulsará daqui. (...) Assim diz Iahweh: à meia-noite passarei pelo meio do Egito. E todo o primogênito morrerá na terra do Egito... Mas, entre todos os filhos de Israel, desde os homens até os animais, não se ouvirá o ganir de um cão, para que saibais que Iahweh fez uma distinção entre o Egito e Israel" (Ex. 11,1-7).
E Deus institui a Páscoa:
"Este mês será para vós... o princípio dos meses... : Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro por família, um cordeiro para cada casa... O cordeiro será macho, sem defeito e de um ano... (...). ...; e toda a assembléia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo. Tomarão do seu SANGUE e pô-lo-ão sobre os dois marcos e a travessa da porta... (...). ...; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis ao fogo. NÃO ("se lhe") QUEBRARÁ OSSO ALGUM (‘cfr. texto grego e Ex. 12,46’). É assim que devereis comê-lo: com os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis às pressas: é uma PÁSCOA para Iahweh. E naquela noite eu passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; e eu, Iahweh, FAREI JUSTIÇA SOBRE TODOS OS DEUSES DO EGITO. O SANGUE, porém, será para vós um sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o SANGUE, passarei adiante e não haverá entre vós o flagelo destruidor... Este será para vós um MEMORIAL e o celebrareis como uma festa para Iahweh; ... é um decreto perpétuo. (...). Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que rito é este?’, respondereis: ‘É o SACRIFÍCIO DA PÁSCOA PARA IAHWEH que passou adiante das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios, mas LIVROU NOSSAS CASAS..." (Ex. 12,2-28).
Mesmo que o texto nada diga, a instituição traz todos os integrantes de um sacrifício (a vítima imolada em oferenda a Iahweh, o sangue "derramado nas casas" como "vida" e proteção do Povo de Deus, a refeição sagrada compartilhada por familiares, a queima do que sobeja por ser "santo"), e possui duas características fundamentais: foi diretamente determinada pelo próprio Deus, para ser celebrada como um MEMORIAL e estava vinculada indestacavelmente à ALIANÇA pela libertação do Povo por Iahweh, "que se lembrou da sua ALIANÇA com Abraão, Isaac e Jacó" (Ex. 2,24). Além disso, a expressão "Farei justiça sobre todos os deuses do Egito" e "a morte dos primogênitos do Egito" têm um significado profundamente religioso, a partir de uma instituição muito cara aos antigos: a PRIMOGENITURA, que, evidentemente, era estruturada com base nos primogênitos, na concepção deles, "aqueles que abrem o seio materno" (Ex. 13,2) e se destinavam ao sacerdócio (Nm. 3,45).
Era tão séria a instituição que, por não a respeitar, Caim teve sua oferenda rejeitada por Deus, que acolheu o sacrifício de Abel por ter oferecido "os primogênitos de seu rebanho" (Gn 4,4); na relação das genealogias só se mencionava o nome deles (Gn. 5), e quando se mencionavam os outros nomes o deles era o primeiro (Gn. 10); o desprezo de Esaú por ela (Gn. 25,29-34) fê-lo perdê-la, ocasionando inimizade mortal entre ele e Jacó, que usurpou "sua bênção" (Gn. 27), muito cobiçada, por sinal. A ameaça de Deus ao Faraó de eliminar todos eles do Egito (Ex. 11,4-10) e o cumprimento dela ocasionou a expulsão dos israelitas pelo Faraó (Ex. 12,31-33), terminando este por dizer: "...parti e abençoai a mim também" (12,32), por se submeter e se render ao poder de Deus que, ao mesmo tempo que eliminou os dos egípcios poupou os dos israelitas, vencendo e assim "fazendo justiça sobre os deuses do Egito". Em conseqüência, foram os dos israelitas oficialmente "consagrados a Iahweh, homens e animais; aqueles para seu serviço e estes para o sacrifício" (Ex. 13). No deserto, quando da unificação do sacerdócio, todos os dos homens foram "substituídos", no sacerdócio que já exerciam, pelos Levitas (Nm. 3,45 e 8,14-18). São eles (‘inexistia outra possibilidade’) os que são mencionados como "sacerdotes", antes da sua oficialização e unificação nos levitas (Ex. 19,22.24) e os "jovens que ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão" no Sinai (Ex. 24,5), quando da ratificação da ALIANÇA:
"Moisés escreveu todas as palavras de Iahweh; e, levantando-se de manhã, construiu um altar... Depois enviou alguns jovens dos filhos de Israel, e ofereceram os seus holocaustos e imolaram a Iahweh novilhos como sacrifício de comunhão. Moisés tomou a metade do sangue e colocou-a em bacias, e espargiu a outra metade do sangue sobre o altar. Tomou o Livro da Aliança e leu para o Povo; e eles disseram: ‘Tudo o que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos.’ Moisés tomou do 0SANGUE e o aspergiu sobre o Povo, e disse: ‘ESTE É O SANGUE DA ALIANÇA QUE IAHWEH FEZ CONVOSCO, através de todas essas cláusulas" (Ex. 24,1-8)
Viu-se como entre os antigos os PRIMOGÊNITOS eram destinados ao exercício do sacerdócio, motivo da "justiça de Iahweh sobre os deuses do Egito". Com a morte deles estava destruída a religião egípcia, inexistindo o sacerdócio que era exercido por eles. A Páscoa então comemora também este fato que caracteriza a perenidade do sacerdócio israelita (Ex. 19,6), e em conseqüência, a da Aliança:
"... Iahweh... lhe disse: ‘Assim dirás à Casa de Jacó... Vós mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios... Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. (...) Veio Moisés... expôs diante deles todas estas palavras que Iahweh lhe havia ordenado. Então todo o povo respondeu: ‘Tudo o que Iahweh disse, nós o faremos" (Ex. 19,3-8). / "Tomou o Livro da Aliança e o leu para o povo; e eles disseram: ‘Tudo o que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos.’ Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: ‘Este é o Sangue da Aliança que Iahweh fez convosco, através de todas essas cláusulas" (Ex. 24,7-8).
Iahweh havia dito ao Faraó por meio de Moisés:
"Assim falou Iahweh: ‘o meu primogênito é Israel’. E eu te disse: ‘Faze partir meu filho, para que me sirva!’ Mas, uma vez que recusas deixá-lo partir, eis que farei perecer o teu filho primogênito" (Ex. 4,22-23).
E é o próprio Jesus que ao instituir a Eucaristia, após o ritual da PÁSCOA DOS JUDEUS, vincula tudo isto ao que denominou Nova Aliança, institui o Sacerdócio dela e inclui o Memorial. É Ele que as relaciona, mostrando assim o "pleno cumprimento" (Mt. 5,17) que Ele mesmo lhes imprimiu:
"Bebei dele todos, pois isto é o MEU SANGUE, O SANGUE DA ALIANÇA, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados" (Mt. 26,27-28; Mc. 14,24; Lc. 22,20; 1Cor. 11,25).
"Este cálice é a NOVA ALIANÇA EM MEU SANGUE; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em MEMÓRIA DE MIM" (1Cor. 11,25).
É por isso tudo que São Paulo, São João e São Pedro têm condições para dar a Jesus o título de CORDEIRO identificando-O ao PASCOAL:
"Pois NOSSA PÁSCOA, Cristo, foi imolada" (1Cor. 5,7).
Em São João é preciso combinar o brado de João Batista com a conclusão do Evangelista quando Jesus morre na Cruz, partindo-se da "figura" do cordeiro anunciado pelo Servo de Deus (Is. 53,7.12), vai-se num "crescendo" até atingir a do Cordeiro Pascal na Cruz:
"No dia seguinte, ele (‘João Batista’) vê Jesus aproximar-se e diz: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’ (Jo 1,29). "Ao ver Jesus que passava, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus’" (Jo 1,36).
"Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas (...), pois isto sucedeu para que se cumprisse a Escritura: ‘Nenhum osso lhe será quebrado’ (Jo 19,33-37).
E, em são Pedro:
"Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis... que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo SANGUE precioso de Cristo, como de um CORDEIRO sem defeitos e sem mácula..." (1Pe. 1,18-19)
Para realçar esse fato, da identidade de Jesus como o Cordeiro Pascoal, é que os Evangelistas que narram a Instituição da Eucaristia, dispõem-na no mesmo dia da Sua Morte, levando-se em conta que o dia para o judeu começava à tarde e terminava na tarde seguinte. É o próprio Jesus que vinculou todas, - Páscoa e Aliança, Eucaristia e Morte na Cruz, - tornando-as inseparáveis:
Mt. 26,26-28: "Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: Tomai e comei, isto é o meu corpo.’ Depois, dando graças, tomou um cálice, e deu-lho dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados."
Mc. 14,22-24: "Enquanto comiam, ele tomou um pão, abençoou, partiu-o e distribuiu-lhes, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.’ Depois, dando graças, e, tomou um cálice deu-lhes e todos dele beberam. E disse-lhes: ‘Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos."
Lc. 22,19-20: "E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória.’ E, depois de comer, fez o mesmo com o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós."
1Cor. 11,23-25: "...: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim.’ após a ceia, Do mesmo modo, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim."
Apesar de cada narrador pretender abordar um ângulo diferente, existem detalhes que lhes são comuns. Destaca-se, para o nosso exame, o Sangue da Aliança, em Mateus e Marcos, e a Nova Aliança em Meu Sangue, em Lucas e Paulo. Em si dizem a mesma coisa, eis que, em Mateus e Marcos, Jesus é apresentado como aquele que "não veio revogar a Lei e os Profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento" (Mt. 5,17), enquanto Lucas e Paulo, ao se referir à Nova Aliança, dizem o mesmo, naturalmente já se reportando às profecias, dentre as quais se destaca:
"Eis que virão dias - oráculo de Iahweh - em que selarei com a casa de Israel (e a casa de Judá) uma Nova Aliança. Não como a Aliança que selei com seus pais, no dia em que os tomei pela mão para fazê-los sair do Egito - minha Aliança que eles mesmos romperam, embora eu fosse o seu Senhor... Porque esta á a Aliança que selarei com a casa de Israel depois desses dias,... Eu porei a minha lei no seu seio e a escreverei em seu coração. Então eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. (...). Porque todos me conhecerão,(...), perdoarei a sua culpa e não me lembrarei mais de seu pecado" (Jr. 31,31-34). "Selarei com eles um Aliança Eterna..." (Jr. 31,39).
Ao que se percebe, a Nova Aliança já era um termo conhecido da Sagrada Escritura, com o que Cristo era familiarizado e pretendeu inaugurá-la durante aquela cerimônia e determinando a sua repetição. Também, vários outros Profetas referiram-se ao advento do Messianismo (Ez. 16,62; 34,23s; 36,26s; 37,24.26-28 etc.) com tal anúncio, traduzindo a consolidação da Aliança com a expiação dos pecados e, dentre outros fatos, como que coroando sua obra, a vinda do Espírito Santo, tão bem revelado por São Pedro no dia de Pentecostes (At. 2,16-21 / Jl. 3,1-5). Da mesma forma, confirmando o seu "cumprimento" em Cristo, "São Paulo" a ela se refere categoricamente:
"Eis por que Ele é mediador de uma Nova Aliança. A sua morte aconteceu para o resgate das transgressões cometidas no regime da Primeira Aliança; e, por isso, aqueles que são chamados recebem a herança ETERNA que foi prometida. (...) Ora, nem mesmo a Primeira Aliança foi inaugurada sem efusão de sangue. De fato, depois que Moisés proclamou a todo o povo cada mandamento da lei, ele tomou o sangue de novilhos e de bodes (...) e aspergiu o próprio livro e todo o povo, anunciando: Este é o Sangue da Aliança que Deus vos ordenou. Segundo a Lei, quase todas as coisas se purificam com sangue; e sem efusão de sangue não há remissão" (Hb. 9,15-22).
Cristo, na Ceia Eucarística, confirmando o que anunciara na Multiplicação dos Pães, estabelece indissolúvel união dEla com o sangue derramado na Cruz e o sangue aspergido por Moisés no Sinai:
"Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: -‘Este é o SANGUE DA ALIANÇA que Iahweh fez convosco...’" (Ex. 24,8).
É a esse Sangue da Aliança que Cristo se identifica, como Cordeiro Pascal, na Instituição da Eucaristia, tornando-o "o cálice da Nova Aliança em meu Sangue", tal como apresentam uniformemente Mateus e Marcos de um lado, Lucas e São Paulo de outro:
MATEUS E MARCOS LUCAS E PAULO
Depois, tomou um cálice e dando graças deu-lho dizendo: ‘Bebei dele todos, pois ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA ALIANÇA, que é derramado por muitos para remissão dos pecados."
Depois, tomou um cálice e, dando graças,deu-lhes e todos dele beberam. E disse-lhes: ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA ALIANÇA, que é derramado em favor de muitos."
E, depois de comer, fez o mesmo com o cálice, dizendo: ‘ESTE CÁLICE É A NOVA ALIANÇA EM MEU SANGUE, que é derramado em favor de vós."
Do mesmo modo, após a ceia,também tomou o cálice, dizendo: ESTE CÁLICE É A NOVA ALIANÇA EM MEU SANGUE; fazei-o em memória de mim todas as vezes que dele beberdes,
Para Mateus, Jesus deveria se identificar com Moisés, e assim, com "a Lei e os Profetas" (Mt. 5,17), motivo por que o sangue deveria ser "derramado por muitos para a remissão dos pecados", lembrando os sacrifícios levíticos, bem como o da própria Páscoa após Josias, em que "sem efusão de sangue não há remissão" (Hb. 9,22):
"Porque a vida da carne está no sangue. E este sangue eu vo-lo tenho dado para fazer o rito da expiação sobre o altar, pelas vossas vidas; pois é o sangue que faz expiação pela vida" (Lv. 17,11 / Hb. 9,22). / "O sacerdote fará por ele o rito da expiação diante de Iahweh, e ele será perdoado, qualquer que seja a ação que ocasionou a sua culpa" (Lv. 5,26).
O derramar o sangue, a que Cristo em Mateus se refere, é o rito de expiação:
"Se a sua oferenda consistir em holocausto de animal grande, oferecerá um macho sem defeito... Porá a mão sobre a cabeça da vítima e esta será aceita para que se faça por ele o rito de expiação. Em seguida imolará o novilho diante de Iahweh, e os filhos de Aarão, os sacerdotes, oferecerão o sangue. Eles o derramarão ao redor sobre o altar..." (Lv. 1,3-5.11-12).
Mas, esta expiação se dá na Cruz: "..., se alguém pecar, temos como advogado, junto do Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados..." (1Jo 2,1-2)."Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu filho como vítima de expiação pelos nossos pecados" (1Jo 4,10)
São Paulo vai mais longe ainda, ao lhe dar a denominação de "propiciatório", no qual a aspersão do sangue traduzia o perdão dos pecados de toda a comunidade (Lv. 16,14-22):
"Deus o destinou a ser o propiciatório, por seu próprio sangue, mediante a fé" (Rm 3,25).
Jesus ao dizer-se SANGUE E SANGUE DA ALIANÇA durante a cerimônia da Ceia Eucarística, antecipa a expiação do sacrifício da Cruz. Esse é o motivo que levou os Sinóticos a situá-los no mesmo dia, fazendo de ambos um só fato; e, São João, a aditar no seu Evangelho a menção de que ao pretenderem quebrar os ossos dos crucificados, não o fizeram com Jesus que já estava morto. Revela o Evangelista que se cumpria a prescrição referente ao Cordeiro Pascal, de que "nenhum osso lhe será quebrado" (Ex. 12,46), e assim identifica-o com Jesus. Também, tão clara como a relação sacrificial, é a "memória" dessa vinculação indestacável ao Calvário:
Depois, tomou um cálice e dando graças deu-lho dizendo: ‘Bebei dele todos, pois ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA ALIANÇA, que é derramado por muitos para remissão dos pecados." "...fazei-o em memória de mim" (Mt. 26,26-28/Mc. 14,22-24/Lc. 22,19-20/1Cor. 11,23-25).
Além da relação sacrificial e de comunhão de uma refeição sagrada, e como bebendo o seu sangue recebe-se sua vida (Lv. 17,11a), a EUCARISTIA É O SACRIFÍCIO PERFEITO DA NOVA ALIANÇA E FONTE DE VIDA, SACRAMENTO, FONTE DE SANTIFICAÇÃO, tal como dissera, "Eu vim para que tenham vida e a tenham em plenitude" (Jo 10,10).
A Eucaristia atualiza e realiza todos aqueles valores que em "figura" eram pertinentes à Páscoa dos Judeus, que pela Aliança libertou o Povo de Deus do Egito e o conduziu à Terra Prometida; e, agora, "se cumprindo" na Páscoa Cristã, pela Nova Aliança, liberta o Homem do pecado e o conduz à Vida Eterna.
A EUCARISTIA E A COMUNIDADE
A Eucaristia tem uma dimensão muito mais ampla que a celebração de um banquete ou uma refeição sagrada e sacrificial. Vai muito mais longe e não se exaure, como todo sacrifício, na comunhão que se estabelece no momento da celebração. Isto pelo simples fato de se dever repetir sempre em memória de Cristo, que não se confinou na Ceia Eucarística.
Até mesmo nos ambientes profanos, por assim dizer, uma refeição não se limita a um simples alimentar, destinado tão somente à sobrevivência, tal como no meio animal. É muito mais que isso. Traduz-se as mais das vezes em uma espécie de solidariedade profunda, refletindo e até mesmo conduzindo a uma identidade e comunhão de vidas, afetos ou sentimentos, concorrendo para a paz social, compartilhada no alimento comum.
Esse aspecto da refeição profana reflete assim, em dimensão terrena, um dos efeitos "naturais" daquela refeição sagrada que é a Páscoa Israelita. Porém, tendo sido esta instituída com dimensão religiosa, "figura" da Páscoa Cristã, supera em muito aquela refeição profana. Além disso, em virtude de "cumprí-la" em uma comunhão sacrificial com Cristo, repetindo-se tal como ela em um memorial, dá-lhe então uma dimensão eterna, comparando-se as duas:
"Este será para vós um memorial, e o celebrareis como uma festa para Iahweh; nas vossas gerações a festejareis; é um decreto perpétuo" (Ex. 12,14). / "Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória" (Lc. 22,19). / "Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim. Pois todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor ATÉ QUE ELE VENHA. Eis porque todo aquele que comer do Pão ou beber do Cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor" (1Cor. 11,25-27). O "fazei-o em memória de mim" e o "anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" formam uma unidade de expressão, consubstanciada no binômio "fazei-o / anunciais". Traduz ela assim a ocorrência de profunda igualdade, anunciada pelo próprio Jesus, com a Sua Morte antes da sua Crucifixão e até mesmo antecipando-A, e ao mesmo tempo INSTITUINDO O SACERDÓCIO CRISTÃO, para torná-LA "presente" com a cerimônia "ATÉ QUE ELE VENHA". Além do sentido escatológico, tal como aconteceu na instituição da Páscoa Israelita, pelo memorial, a Ceia Eucarística "exala um perfume de suave odor para Deus" (Ex. 29,18). O termo memorial ou memória, quando é a "lembrança" de Deus, sempre se traduz em uma atitude dinâmica, as mais das vezes, libertadora e vinculada à Aliança: "..., e os filhos de Israel, gemendo sob o peso da servidão, clamaram; e... o seu clamor subiu até Deus; Deus lembrou-se de sua Aliança..." (Ex. 2,23-25). "Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito... Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios..." (Ex. 3,7-8). "... Iahweh... Este é o meu nome para sempre, e esta será a minha lembrança (lit.: "memória") de geração em geração" (Ex. 3,15). / "Nos vossos dias de festas, solenidades ou neomênias, tocareis as trombetas nos vossos holocaustos e sacrifícios de comunhão, e elas vos serão como MEMÓRIA diante do vosso Deus" (Nm. 10,10).
Essa significação, que vincula a ação de Iahweh-Deus em favor de seu Povo, é conhecida e dela participam até mesmo na sua época os primeiros cristãos:
"As tuas orações e as tuas esmolas subiram em memorial diante de Deus, e ele se lembrou de ti." (At. 10,4). / "Cornélio, tua oração foi ouvida e tuas esmolas foram rememoradas diante de Deus" (At. 10,31).
Essa vinculação de Deus pela memória a um compromisso que tenha contraído, - a Aliança, por exemplo, - fica bem mais clara em vários e outros trechos da Escritura, tanto do Antigo como do Novo Testamento:
"Eis o sinal da Aliança que instituo entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, para todas as gerações futuras: porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal da aliança entre mim e a terra. (...) Quando o arco estiver na nuvem, eu o verei e ME LEMBRAREI DA ALIANÇA ETERNA que há entre Deus e os seres vivos..." (Gn. 9,12-17)."Socorreu Israel, seu servo, LEMBRADO de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, ..." (...) "...; para fazer misericórdia com nossos pais, LEMBRADO DE SUA ALIANÇA SAGRADA, do juramento que fez ao nosso pai Abraão..." (Lc. 1,54.72s)."E ouvi o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios escravizavam, E ME LEMBREI DA MINHA ALIANÇA. Portando, dirás aos filhos de Israel: Eu sou Iahweh, e vos farei sair debaixo das cargas do Egito, vos libertarei da sua servidão... Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus" (Ex. 6,5-7).
Pode-se então compreender que o memorial da Eucaristia tem essas conotações, a começar por aquela que reflete a libertação do Egito e, agora, a da escravidão do pecado, como um ato de extremo amor do Filho Unigênito do Pai. Antes, com o sangue "derramado" nos portais dos israelitas e, agora, com o "sangue derramado em favor de muitos", "cumprindo" (Mt. 5,17) assim a Nova Aliança. Esse memorial é a repetição da Morte de Cristo na Cruz, pois "a proclama até que ele venha" (não se pode proclamar o que não acontece) e "aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor", e ainda "aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação" (1Cor. 11,26-28). Não se trata, portanto, de uma simples lembrança do gesto de Jesus entregando-se à morte, "e morte de Cruz" (Flp. 1,8), mas da presença real do Corpo e do Sangue de Jesus, separados antecipadamente como na Cruz, pela imolação. Também, "derramado" o sangue, tal como no cerimonial da Páscoa Judaica; agora, porém, no ritual da Páscoa Cristã, no altar da Mesa da Cerimônia Eucarística, tal como na Cruz, "em favor de muitos". Não fora assim seria impossível ser "réu do corpo e do sangue do Senhor", ou "comer e beber a própria condenação". E é somente por causa disso que, por ter assim reconhecido o Cristo, com São Paulo, se pode dizer: "... Cristo, NOSSA PÁSCOA, foi imolado" (1Cor 5,7).
Por outro lado, João Evangelista, ao narrar o Lava-Pés (Jo 13), dá as linhas mestras de alguns elementos que compõem a dimensão escatológica ("até que Ele venha") do ritual Eucarístico. Principalmente, quando Pedro resiste e não quer ter os pés lavados pelo Mestre e Jesus lhe diz que "se não lhe lavar os pés não terá parte com Ele" (13,6-9). Exibe Jesus, com isso, uma dimensão apostólica, com significado bem mais amplo do que um humilde e exclusivo ato de "lavar-pés". É tal como um complemento daquela "purificação de que foram alvo" (13,9-10), que deverá também "se repetir sempre" (13,12-20), e cujo prolongamento atinge uma dimensão missionária, clara por demais, ao Jesus dizer: "... quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou" (13,20)
Além disso, João com essa sua narrativa da Eucaristia (Jo 13,2... "durante a CEIA"), manifesta um sentido bem diferente e mais amplo que o dos Sinóticos quanto à Instituição do Sacerdócio. Para isso, exibe também uma dimensão de serviço, aí imanente:
"Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. ... o servo não é maior que o seu Senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou" (Jo 13,15-16).
E, da mesma forma, vai exprimir uma dimensão comunitária da santificação advinda. Jesus "coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha..." (13,5 / 2Sm. 25,41). Ato de "servo", "o Servo do Senhor" profetizado por Isaías (Is. 53), que deverá também ser praticado por eles, "que não são maiores que o seu Senhor nem daquele que os enviou", "lavando os pés uns dos outros", e enviando outros para a Evangelização do Mundo. Darão, assim, prosseguimento à dimensão missionária, que nasce na comunhão estabelecida com o próprio Cristo, tornando-se um só corpo com Ele, a partir da Eucaristia.
João, assim detalhando, oferece mais elementos às genéricas narrações dos Evangelhos de Mateus (Mt. 10) e Lucas (Lc. 22,19-27). Mateus apresenta no capítulo dez o que se denomina por vezes de "Discurso Missionário", entre cujas recomendações de Jesus se destacam as mesmas de João, acima transcritas, se bem que "antes" da sua narrativa da Instituição da Eucaristia (Mt. 26):
"Não existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor. (...) Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou" (Mt. 10,24.40).
Por sua vez, também, insinua uma identidade com a Páscoa dos Israelitas, pelas mesmas palavras que usa, refletindo uma situação a Ela vinculada, ao narrar e comparando-as:
"Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado..." (Mt. 10,9-10).
"É assim que devereis comê-lo (‘o Cordeiro Pascoal’): com os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado nas mãos..." (...)
"Os filhos de Israel fizeram como Moisés havia dito, e pediram aos egípcios objetos de prata, objetos de ouro e roupas (...) os egípcios lhes davam o que pediam;..." (Ex. 12,11.35-36).
Dispondo-as em duas colunas e remanejando-as para melhor visão, vê-se a semelhança de palavras e a diferença de situações, tal como desejou Jesus:
Mt. 10,9-10 Ex. 12,11.35-36 Não leveis cobre nos vossos cintos, nem sandálias, nem cajado. Não leveis ouro, nem prata nem cobre nos vossos cintos, nem para o caminho, nem duas túnicas.
É assim que devereis comê-lo: os lombos cingidos sandálias nos pés cajado nas mãos. Os filhos de Israel fizeram como Moisés havia dito, e pediram aos egípcios objetos de ouro, objetos de prata e roupas.
É que, na Páscoa Israelita, o Cordeiro seria "comido às pressas" pelos israelitas, já preparados para uma longa viagem (Ex. 12,11) e para a conquista da Terra Prometida (Nm. 13-14) enquanto que, agora, na Páscoa Cristã, iriam em Missão de Paz, "armados" para uma conquista diferente:
"... proclamai que o Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebeste, de graça dai" (Mt. 10,7-8).
Essa dimensão "missionária" e de "serviço" é diferentemente demonstrada por Lucas, quando, após a narração da Instituição da Eucaristia, na Última Ceia, traz a cena da discussão dos discípulos sobre "quem seria o maior" (Lc. 22,24-30), cuja orientação dada por Jesus mostra o exemplo da Sua TOTAL DOAÇÃO: "..., qual é o maior; o que está à mesa, ou aquele que serve? Não é aquele que está à mesa? EU, PORÉM, ESTOU NO MEIO DE VÓS COMO AQUELE QUE SERVE" (Lc. 22,27).
Não é outro o centro da Eucaristia, que esse ato de amor de Jesus doando-se todo para o Pai e o Homem, dimensão que deverá nortear a atividade apostólica, alimentada e "em comunhão" com o Cristo Eucarístico. Isso leva ao mesmo episódio segundo Mateus, em que Jesus diz:
"...o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo. ...o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt. 20,27-28)
É o AMOR-DOAÇÃO de Jesus, que se deverá repetir na comunhão fraterna, "em resgate por muitos", essa a principal dimensão que se inaugura na Ceia Eucarística, na comunhão ensejada pela refeição sacrificial. Não se trata, porém, de um valor "pago" "em resgate", como se a salvação tivesse o "credor de um preço", mas de um ato de extremo amor, de um Deus que "nos amou primeiro" (1Jo 4,10), pelo que a comunidade deve fazer o mesmo, "servir": "Antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13,1). / "Dou-vos um mandamento novo: Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros" (Jo 13,34-35). / "..., e fazei que todas as nações se tornem discípulos, ..." (Mt. 28,19). Qual seja, VIVER A CARIDADE (AMOR DE DEUS) EM FRATERNA UNIDADE COMUNITÁRIA, ALIMENTADOS PELA "COMUNHÃO" COM CRISTO, e assim tornando-se uma comunidade. Esta só se forma a partir da comunhão Eucarística (com Jesus), único meio para se entrar em comunhão "comunitária". Isto fica por demais claro com o episódio em que Jesus ensina:
"..., se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta" (Mt. 5,23-24).
Jesus se refere aqui ao altar, local dos sacrifícios, norma que não teria sentido se tivessem sido abolidos por Ele. Não os aboliu, ao contrário, tornou-se a única vítima, A HÓSTIA SAGRADA, deixando clara a condição de amor para "estar em comunhão com o altar", ou melhor, agora, com o próprio Jesus, tal como disse São Paulo (1Cor. 10,18-21). Ainda se torna mais claro se for considerada a continuidade do "Discurso Eucarístico" de São João, comparando-o com as Palavras de Cristo na Multiplicação dos Pães:"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que comer de mim viverá por mim" (Jo 6,54-57). Desde o Lava-Pés (Jo 13) até o final do capítulo dezessete, João descreve os acontecimentos na Ceia Eucarística até a estada no Monte das Oliveiras (Jo 18), onde Jesus foi preso. Não se pode separar esses capítulos como se fossem compartimentos estanques, cada um com o seu tema. Formam uma unidade com a Ceia Eucarística. Confirma assim João a exatidão dos Sinóticos, quando colocam a Instituição da Eucaristia e a Paixão de Cristo num mesmo dia. Devem ser lidos sob a mesma perspectiva sacrificial e comunitária da Fração do Pão, e sem solução de continuidade, lembrados de que a divisão em capítulos nos Livros Sagrados vem mais como auxiliar aleatório de localização, e não como nos dos profanos, separados por assunto ou abordagem, muitas vezes distintos e definitivos. Observando-se isso, essa última perícope transcrita deverá ser conjugada à que se segue, do "Discurso Eucarístico", para, comparando-as, se compreender melhor a dimensão da unidade advinda da manducação da Hóstia Sagrada: "Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque sem mim nada podes fazer. (...) Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se observais os meus mandamentos permanecereis no meu amor, como eu guardei os preceitos de meu Pai e permaneço em seu amor. (...) Este é o meu preceito: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,4-12). Jesus coloca assim a Eucaristia como centro gravitacional da Unidade do Seu Corpo Místico, sacramento e fonte do amor, veículo e meio da permanência dos fiéis nEle e dEle nos fiéis, tornando-se uma unidade com o Pai: "Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. (...) Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" ... (Jo 17,18-26). / "Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará, e a ele viremos e nele estabeleceremos morada" (Jo 14,23).
São Paulo confirma essa vinculação do Corpo Místico de Cristo à Eucaristia, quando diz, e alhures esclarece:
"Já que há um único Pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único Pão" (1Cor. 10,17). "Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo: a PLENITUDE DAQUELE QUE PLENIFICA TUDO EM TODOS" (Ef. 1,22).
Com uma visão assim mais abrangente é de se compreender melhor o Sacrifício Eucarístico e o da Cruz. Por isso dissemos no início que hoje não se tem a mesma noção cultural do sacrifício, tal como os antigos, bem como israelitas ou judeus. Pelo conhecimento e compreensão dos seus fundamentos, aceitaram e acataram facilmente a Celebração Eucarística, legando-nos da Tradição Apostólica, a Santa Missa.
4º. SACRAMENTO DA MATRIMÔNIO:
"A aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada; entre os batizados, à dignidade de sacramento, por Cristo Senhor".
1603 - "A íntima comunhãode vida e de amor conjugal que o Criador fundou e adotou com suas leis é instaurada pelo pacto conjugal, ou seja, o consentimento pessoal irrevogável" A vocação para O Matrimônio; está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. O casamento não é uma instituição simplesmente humana, apesar das inúmeras variações que sofreu no curso dos séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns e permanentes. Ainda que a dignidade desta instituição não transpareça em toda parte com a mesma clareza, existe contudo, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial. "A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade conjugal e familiar"
1604 - Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi, Criado à imagem e semelhança de Deus que é Amor. Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se toma uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem, Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador. E este amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e realizar-se na obra comum de preservação da criação: "Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28).
1605 - Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma: "Não é bom que o homem esteja só. A mulher, "carne de sua carne", isto é, seu próprio rosto igual a ele, bem assim, lhe foi dada por Deus como um auxílio”, representando assim, “Deus, que está o nosso socorro” . “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tomam uma só carne" (Gn 2,18-25, aqui 24). Que isto significa uma unidade indefectível de suas duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra lembrando qual foi, “na origem”, o desígnio do Criador: “De modo que já não são dois, mas uma só carne” (Mt. 19,6)
1606 - Todo homem sofre a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência também se faz sentir nas relações entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela infidelidade, inveja e por conflitos que podem chegar até ao ódio e à ruptura. Essa desordem pode manifestar-se de maneira mais ou menos grave, e pode ser mais ou menos superada, segundo as culturas, as épocas, os indivíduos. Tais dificuldades, no entanto, parecem ter um caráter universal.
1608 - Não obstante, a ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, em sua misericórdia infinita, jamais lhes recusou. Sem esta ajuda, o homem e a mulher não conseguiriam atingir a perfeição da união de suas vidas para a qual foram criados "no princípio”.
1615 - É provável que esta insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial deixasse as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável. Isso não quer dizer que Jesus colocou um fardo impossível de carregar e pesado demais nos ombros dos esposos, mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para restabelecer a ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, ele mesmo dá a força e a graça para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. É seguindo a Cristo, renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz que os esposos poderão "compreender" o sentido original do casamento e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do matrimônio cristão é um fruto da Cruz de Cristo, fonte de toda vida cristã.
1622 - Como gesto sacramental de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio... deve ser válida por si mesma, digna e frutuosa" .Convém, pois, que os futuros esposos se disponham à celebração de seu casamento recebendo o sacramento da Penitência.
1623 - Na Igreja Latina, considera-se habitualmente que são os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem mutuamente o sacramento do Matrimônio expressando diante da Igreja seu consentimento. Nas liturgias orientais, o ministro do sacramento (chamado "Coroação") é o presbítero ou o Bispo que, depois de receber o consentimento recíproco dos esposos, coroa sucessivamente o esposo e a esposa em sinal da aliança matrimonial. 1625 Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem, e uma mulher batizados, livres para contrair o matrimônio e que expressam livremente seu consentimento. "Ser livre" quer dizer: -não sofrer constrangimento; -não ser impedido por uma lei natural ou eclesiástica.
1626 - A Igreja considera a troca de consentimento entre os esposos como elemento indispensável "que produz o matrimônio". Se faltar o consentimento, não há casamento.
1627 - O consentimento consiste num "ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente": "Eu te recebo por minha mulher" -"Eu te recebo por meu marido". Este consentimento que liga os esposos entre si faz com que os dois "se tomem uma só carne".
1628 - O consentimento deve ser um ato da vontade de cada um dos contraentes, livre de violência ou de medo grave: externo. Nenhum poder humano pode suprir esse consentimento. Se faltar esta liberdade, o casamento será inválido.
1630 - O sacerdote (ou o diácono) que assiste à celebração do Matrimônio acolhe o consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da mesma Igreja. A presença do ministro da Igreja (e também das testemunhas) exprime visivelmente que o casamento é uma realidade eclesial.
1631 - É por esta razão que a Igreja normalmente exige dos seus fiéis à forma eclesiástica da conclusão do casamento. Diversas razões concorrem para explicar esta determinação:
-O casamento-sacramento é um ato litúrgico. Por isso convém que seja celebrado na liturgia pública da Igreja.
-O Matrimônio foi introduzido num ordo eclesial, cria direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e relativos à prole.
-Sendo o matrimônio um estado de vida na Igreja, e necessário que haja certeza a seu respeito (daí a obrigação de haver testemunhas).
-O caráter público do consentimento protege o mútuo "Sim" que um dia foi dado e ajuda a permanecer-lhe fiel.
1634 - A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculo insuperável para o casamento, desde que consigam colocar em comum o que cada um deles recebeu na sua comunidade, e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso devem ser subestimadas as dificuldades dos casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é uma questão ainda não resolvida. Os esposos correm o risco de sentir o drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar mais ainda essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepção do casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de tensões no casamento, principalmente no que tange à educação dos filhos. Uma tentação pode então apresentar-se: a indiferença religiosa.
1637 - Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma missão particular: "Pois o marido não cristão é santificado pela esposa, e a esposa não cristã é santificada pelo marido cristão" (Cor 7,14). Será uma grande alegria para o cônjuge cristão e para a Igreja se esta "santificação" levar o cônjuge à livre conversão à fé cristã. O amor conjugal sincero, a humilde e paciente prática das virtudes familiares e a oração perseverante podem preparar o cônjuge não cristão a acolher a graça da conversão.
1638 "Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados como sacramento especial, aos deveres e à dignidade do seu estado".
1639 - O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selado pelo próprio Deus. De sua aliança "se origina também diante da sociedade uma instituição firmada por uma ordenação divina". A aliança dos esposos é integrada na aliança de Deus com os homens: "O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino".
1641 - "Em seu estado de vida e função (os esposos cristãos) têm um dom especial dentro do povo de Deus". Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a aperfeiçoar o amor dos cônjuges a fortificar sua unidade indissolúvel. Por esta graça "eles se ajudam mutuamente a santificar-se na vida conjugal, como também na aceitação e educação dos filhos".
1643 - "O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa-chamada do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade-; o amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se de características normais do amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as a ponto de torná-las a expressão dos valores propriamente cristãos".
1644 - O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade de sua comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: "De modo que já não são dois, mas uma só carne" (Mt 19,6). "Eles são chamados a crescer continuamente nesta comunhão através da fidelidade cotidiana à promessa matrimonial do recíproco dom total". Esta comunhão humana é confirmada, purificada e arrematada pela comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do Matrimônio. É aprofundada pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida em comum.
1645 - "A unidade do Matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante a igual dignidade do homem e da mulher enquanto pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito". A poligamia é contrária a essa igual dignidade e ao amor conjugal, que é único e exclusivo.
1646 - O amor conjugal exige dos esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade inviolável. Isso é a conseqüência do dom de si mesmos que os esposos se fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser "até nova ordem". "Esta união íntima, doação recíproca de duas pessoas e o bem dos filhos exigem a perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel unidade".
1647 - O motivo mais profundo se encontra na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimônio os esposos se habilitam a representar esta fidelidade e a testemunhá-la. Pelo sacramento, a indissolubilidade do casamento recebe um novo e mais profundo sentido.
1648 - Pode parecer difícil e até impossível ligar-se por toda a vida a um ser humano. Por isso é de suma importância anunciar a Boa-Nova de que Deus nos ama com um amor definitivo e irrevogável, que os esposos participam deste amor, que ele os apóia e mantém, e que através de sua fidelidade podem ser testemunhas do amor fiel de Deus. Os esposos que, com a graça de Deus, dão esse testemunho, não raro em condições bem difíceis, merecem a gratidão e o apoio da comunidade eclesial.
1649 - Mas existem situações em que a coabitação matrimonial se torna praticamente impossível pelas mais diversas razões. Nestes casos, a Igreja admite a separação física dos esposos e o fim da coabitação. Os esposos não deixam de ser marido e mulher diante de Deus; não são livres para contrair uma nova união. Nesta difícil situação, a melhor solução seria, se possível, a reconciliação. A comunidade cristã é chamada a ajudar a essas pessoas a viverem cristãmente sua situação, na fidelidade ao vínculo de seu casamento, que continua indissolúvel.
1652 - O instituto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à procriação e à educação dos filhos, em que culminam como numa coroa.
Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais. Deus mesmo que disse: "Não convém ao homem ficar sozinho" (Gn 2,18), e "criou de início o homem como varão e mulher" (Mt 19,4), querendo conferir ao homem uma participação especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo: "crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28). Donde se segue que o cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana, sem desprezar os outros fins do Matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente com o amor do Criador e do Salvador que, por intermédio dos esposos, aumenta e enriquece sua família.
1653 - A fecundidade do amor conjugal se estende aos frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que os pais transmitem a seus filhos pela educação. Os pais são os principais e primeiros educadores de seus filhos. Neste sentido, a tarefa fundamental do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida.
1656 - Em nossos dias, num mundo que se tomou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concílio Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de “Ecclesia domestica”. É no seio da família que os pais são “para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada”.
1657 - É na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, "na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa”. O lar é assim a primeira escola de vida cristã e "uma escola de enriquecimento humano". É aí que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e, sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida.
1658 - Não podemos esquecer também certas pessoas que, por causa das condições concretas em que precisam viver - muitas vezes contra a sua vontade - estão particularmente próximas do coração de Jesus e que merecem uma atenciosa afeição e solicitude da Igreja e principalmente dos pastores: o grande número de pessoas celibatárias. Muitas dessas pessoas ficam sem família humana, muitas vezes por causa das condições de pobreza. Há entre elas algumas que vivem essa situação no espírito das bem-aventuranças, servindo a Deus e ao próximo de modo exemplar. A todas elas é preciso abrir as portas dos lares, "Igrejas domésticas", e da grande família que é a Igreja. "Ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é casa e família para todos, especialmente para quantos 'estão cansados e oprimidos”
Quando pegamos as Sagradas Escrituras nós vemos várias figuras, personagens, que nos dão a dimensão e importância que tem o matrimônio para Deus.Há livros inteiros na Bíblia que falam do matrimônio. Um deles é o cântico dos cânticos, que é um livro onde todo ele vai sendo falado, mergulhado sobre o amor do esposo com a esposa. Lá no livro tem a figura exata dos noivos e dos esposos. Nós sabemos que o livro dos Cânticos tem outra dimensão que é o casamento da Igreja com o seu esposo que é Jesus. Porém, o nosso casamento com o nosso cônjuge, o seu casamento com seu esposo, esposa, na verdade ele espalha esse amor que Deus tem por nós. Se pudéssemos pegar a dimensão do matrimônio e a mensagem de Jesus, os desígnios de Deus para nós através de Jesus e tudo o que Jesus nos dá através da Igreja em Jesus como cabeça, nós vamos perceber que um espelhou-se no outro. O nosso casamento é um espelho, um reflexo do amor de Deus por nós.
O matrimônio quando a gente pega São Paulo, Oséias, quando Deus fala para nós a figura do profeta, que havia constante desentendimento com sua esposa, percebemos que Deus quer levar o nosso casamento, o sacramento do matrimônio, para que seja vivido no Senhor. E iniciemos isso, lembrando a passagem das bodas de Caná. E Jesus está naquela belíssima festa de casamento onde já vão sete dias de festa, era assim que os judeus celebravam o casamento, e a uma certa altura acaba o vinho. Todos nós conhecemos esta passagem onde Jesus diz a Maria que não é chegada ainda a sua hora porque ela o está pedindo para solucionar o problema da falta de vinho; ela nem se importa muito com a resposta dele e se vira para os servos dizendo, fazei tudo aquilo que ele vos disser, vos mandar. E esse novo vinho que Jesus transforma vem para nos significar hoje, o sabor novo que Deus quer derramar no nosso casamento. É uma figura que sempre a Igreja traz para lembrar que no casamento pode até ter acabado o vinho, mas que, pela graça que há nele, do sacramento que existe nele, esse vinho é renovado e adquire um novo sabor. É um vinho que vem em abundância e com certeza é esse número maravilhoso de casais que estão aqui, é porque na sua vida você já provou desse vinho novo, com certeza. É isso que alegra o nosso coração, é porque vocês bebendo esse vinho que renova o matrimônio, apara as arestas, que nos faz buscar a Jesus Cristo.
Então, tudo começou lá naquele dia em que nós mulheres ficamos belíssimas vestida de branco... A maioria é assim, não é verdade? A maioria é aquela festa bonita, aquele preparo. Então tudo começou na celebração do matrimônio. O sacramento do matrimônio sempre ocorre dentro da santa missa, porque a celebração da ceia do Senhor atrai todos os sacramentos para ela. Dentro dessa missa, quando ocorreu o nosso casamento ocorreu o sacramento, na verdade quem ministrou o sacramento foi você e seu esposo. Você e sua esposa. No sacramento da penitência o ministro é o sacerdote que naquela hora representa Cristo. Porém no matrimônio quem ministra não é o padre e sim os noivos que são os ministros principais e o padre e as outras testemunhas e os convidados de uma maneira geral, estão ali para assistir e confirmar aquele sacramento. Mas o sacramento é ministrado pelos pelos noivos e daí tem uma importância fundamental do sacramento do matrimônio porque muitas vezes pode acontecer de as pessoas namorarem, noivarem, planejam casar-se, fazem mil planos para casar. Chega o dia do casamento, casam-se, constituem uma família, e muitas vezes passam a vida inteira ao longo do tempo de suas vidas ou muitas vezes passam um pouco de tempo de felicidade desfrutando daquela felicidade e começa a discórdia, e começa marido e mulher a se questionarem: será se era isso que eu queria? Não é bem assim, que estava pensando. Como fulano mudou. Ele não era assim. E muitas vezes não colocaram nem isso para fora verbalmente, mas de outras formas como intrigas, raiva... E às vezes aquilo está acumulado dentro de cada um deles. O que é que acontece? Começa desde aí, o ministro desse sacramento fui e o meu esposo. Deus é tão sábio, porque ele pede de nós que é para sempre até que a morte separe, e então desde o começo foi com a minha participação, marido e mulher ministrando aquele sacramento e ali representando a pessoa de Jesus e aí nasce a celebração do matrimônio. Porém, esse, além de ser a união entre marido e mulher para que juntos sirvam melhor a Deus, é também uma união onde marido e mulher vão gerar filhos para Deus. E na dimensão nossa aqui, o matrimônio deixa de ser a busca da minha felicidade individual e passa a ser a busca da vontade de Deus para a minha família e para os meus filhos. O matrimônio, para que aconteça de fato, tem que haver entre marido e mulher o que é chamado de consentimento. Primeiro tem que haver é o consentimento, segundo, a consumação.
O consentimento é o ato humano pelo qual marido e mulher se aceitam mutuamente dizendo aquela fórmula que todos nós já conhecemos na celebração. O casamento tem que ter esta fórmula. Fórmula que o marido diz para a esposa e essa para o marido "eu te aceito livremente como meu esposo para te amar, respeitar, na saúde, na doença, etc... Isso é o consentimento que não pode ser induzido onde não há a liberdade e a total consciência do que se está fazendo. Na hora do casamento, o sacramento é tão sério, tão profundo, que, primeiro: a Igreja instituiu que o ministro são os noivos; segundo: tem que ter esse consentimento de maneira livre. Esse consentimento produz o matrimônio, dali em diante estão casados, falta a consumação que se dá pelo ato conjugal. Só vão está casados de fato, quando tiverem o primeiro ato conjugal após o consentimento. Aí, sim, estão casados. Porque a Igreja dá o valor necessário que existe no ato sexual. Tem o seu valor primordial para a Igreja, porque o sacramento do matrimônio, é o único que existe que dá direito a uma pessoa "usar" o corpo da outra santamente. É o único que existe na Igreja, espiritualmente falando, de qualquer maneira, em qualquer linguagem que se fale, só se pode usar o corpo do outro através do sacramento do matrimônio. Usar o corpo de outro de qualquer outra forma, seria ilícito. Só podemos usar o corpo do outro através do sacramento do matrimônio, e isso é muito importante. Poderíamos agora falar um pouco da moral, dentro do matrimônio. Aí é o fundamento de tudo. Daí porque a Igreja zela pelo controle da natalidade; daí porque o papa pediu aos médicos cristãos para que encontrassem um método natural de controle da natalidade. Aí surgiu o casal australiano que nos trouxe o método de billings. Porque só o sacramento do matrimônio dá direito ao homem de usar o corpo da mulher santamente e ter prazer e vice-versa. Lógico, não ferindo a moral da Igreja, nem os outros aspectos que envolvem a sexualidade.
Então é importante que percebamos a graça, a dimensão do consentimento. Você consentiu, participou, esteve lá, aos pés do padre e disse: eu te recebo, e é para toda a minha vida! Você disse, eu disse, nós dissemos isso. Aquele padre ouviu isso em nome da Igreja, as testemunhas ouviram isso de nós em nome da sociedade. É como que algo mágico! Aquelas palavras que dissemos produziram o sacramento do matrimônio e esse, com o consentimento e com a consumação, existe para sempre. Porém, dentro do matrimônio tem o elemento essencial e a propriedade essencial. O que é o elemento essencial? São dois: primeiro casamos para ter filhos, segundo é um consórcio para toda a vida. Por exemplo, principalmente as mulheres, novas, bonitas, o corpo esbelto, e muitas talvez ouviram, eu já ouvi isso: "eu vou casar, mas vou pensar se eu vou querer ter filhos". "Eu não quero ter filhos, nós não vamos ter filhos". Para um casamento com esse pensamento e se persistir o pensamento, isso é um grave engano e pode ser que esse casamento não tenha existido porque de alguma maneira fere o elemento essencial ou a propriedade essencial, pode ser que o casamento nunca tenha existido. A Igreja não aceita o divórcio. O que acontece em alguns casos que são levados para o tribunal eclesiástico, e esse chega a conclusão de que não houve sacramento.
Então vamos lá. O elemento essencial, casar para ter filhos. Surje um problema de esterelidade ou coisa assim, mas, mesmo assim, há dentro do coração daqueles esposos um desejo de ter filhos. Nós casamos para ter filhos. O consórcio é para a vida toda. Não podemos, dizer de maneira leviana: "Eu vou casar, se não der certo, separo". Pode ser que uma pessoa pensando assim e insistindo nisso, que este casamento não exista, porque eu tenho que ter consciência de que é para sempre e disse lá na Igreja que era na saúde e na doença, na alegria e na tristeza... Acontece que quando vem a primeira doença, as vezes prolongada, começa a surgir o pensamento, ah não, eu casei para ser feliz não foi para se enfermeira, e coisas assim. Mas nós dissemos lá que era na dor, na doença, na tristeza, também. Então é para sempre, até que a morte nos separe.
Tem também no matrimônio a propriedade essencial. Primeiro a unidade dentro do matrimônio tem que ser um homem e uma mulher. Não pode haver entre os dois uma terceira pessoa, ninguém, ninguém interferindo entre os dois. Não quero falar aqui na dimensão das famílias que muitas vezes interferem; sogro, sogra, irmãos, pais... Não deixem ninguém interferir no casamento de vocês. Tem que ter a unidade , nem os filhos podem interferir. Existem muitos casos de esposas quando começam a ter os filhos que esquecem o marido, porque é algo que encanta é um tesouro, é maravilhoso, algo maior que nós. Mas muitas vezes o marido fica jogado em quarto ou quinto plano. Até que aquele pimpolhinho maravilhoso deixe de ser isso e fique um pimpolhão, dando trabalho que, aí, a mãe, "fulano, você precisa dar um jeito nesse menino". E o fulano já está para lá de Bagdá, porque enquanto aquele pimpolhinho ficou um pimpolhão, a mulher esquecia totalmente do marido. Então ninguém pode interferir entre marido e mulher, nem mesmo os filhos. Porque nós somos um, é com o esposo e esse é um, é com a esposa. Os filhos são frutos disso. Como tem lá no Salmo, os filhos são como flechas na aljava, vão ser lançados para longe. Tem que ser educados para serem homens e mulheres maduros para decidir a sua vida. Então, a propriedade essencial do matrimônio é a unidade. Mas essa unidade desse homem e dessa mulher, é no sentido de fidelidade. Por exemplo, o casal que casa e na época do sacramento, algum dos cônjuges tinha um relacionamento com outra pessoa. Relacionamento íntimo que após o casamento, persiste nessa relação isso não pode existir e acontecer porque quebra a unidade. Dentro do sacramento tem que haver essa dimensão e esse caráter da fidelidade. Esse casamento corre um sério risco de vida porque quando foi instituído o sacramento do matrimônio, quando a Igreja percebeu que existia esse elemento essencial e essas propriedades, à luz do Espírito Santo ela sabia que se não houvesse isso daí, era impossível viver aquela dimensão do matrimônio até que a morte os separe. Porque quem vai separar agora não é mais a morte , mas essa terceira pessoa. Então é a dimensão profunda que Deus quer da fidelidade. Deus mostra profundamente a fidelidade dele para a Igreja.
A outra propriedade essencial é a indissolubilidade. Se o casamento valeu diante de Deus, ele é indissolúvel.
Nada pode dissolver. E nada é nada. É tão nada, que os filósofos pararam para entender o que era o nada. E como não conseguiram entender, decifrar o nada, encontraram um nome bem bonitinho para ele, que é o niilismo. Nada é nada. Então se o casamento valeu, ele é indissolúvel, nada pode dissolver o nosso casamento. Sabe quando é que o nosso casamento se dissolve? Quando um dos dois não acredita no fundo da sua alma, que Deus dá a graça, que o casamento é indissolúvel, que eu assumi um compromisso diante da Trindade e foi um compromisso tão sério que Deus não colocou o padre par se comprometer no meu lugar ou para dizer a fórmula no meu lugar. Fui eu mesma, que ministrei o sacramento. No matrimônio foi você mesmo que quem ministrou o sacramento porque a partir do momento que você diz aquela fórmula, lógico, dentro de todo um contexto espiritual, dentro da celebração eucarística o casamento passou a existir.
Então, essa indissolubilidade muitas vezes dá-se o nome também de vínculo. É um vínculo que existe agora entre os dois. Há muitos casais que, dizem, se parecem até fisicamente, não é verdade? Ao longo do tempo, nós mesmos achamos isso. É um vínculo estreito que existe. É tão forte que os casais que se atreveram a se separar, porque isso é um atrevimento, é ser atrevido diante de Deus, é brincar diante de Deus, foi uma separação com dor, dolorosa, gera traumas. É um vínculo invisível que há. É algo que não podemos apalpar, mas existe. Os casais que se separaram foi a custa de muito trauma, de muita dor. Até mesmo a família... Há todo um contexto de dor, porque querem quebrar, romper um vínculo que Deus colocou. E como não rompe, porque é indissolúvel, há aquele constrangimento. E embora estejam separados fisicamente, e daí para frente decidam sua vida de maneira errada, o vínculo existe. Embora negado, rejeitado, o vínculo está lá. Porque faz parte da propriedade, é a essência do sacramento.
Antes de passar para a segunda parte, eu gostaria de dizer que os casais que percebam que houve algumas dessas coisas que eu coloquei, que são ditas até de maneira vã, basta que os dois, o casal, renovem o consentimento e fazer o compromisso diante de Deus de viverem o seu matrimônio santamente.
Então, quando é que pode acontecer faltar o consentimento? Pode acontecer quando há em um dos noivos a falta do uso da razão. Se houve algum problema de saúde e depois é constatado, aí houve a falta do consentimento, o erro de pessoa. As pessoas namoravam por correspondência e casaram por procuração. Alguns meses depois que vão s encontrar, caem de costas. "não, com essa daí eu não agüento. A vida toda? Não era esse retrato que eu recebia todo mês. Gente isso é real, vocês pensam talvez que eu estou querendo fazer vocês rirem, não é?. Aí manda a foto e fica se correspondendo. "Eu não sou muito maravilhosa, a minha colega aqui é. A gente tem até o mesmo cabelo preto, então me empresta a tua foto. E passa o namoro todo se correspondendo. O outro se empolga e casa por procuração. Isso pode ser causa do casamento não valer porque não houve o consentimento.
Em outros casos a pessoa queria casar com outro, contanto que ele tivesse saúde e quando ela casa, descobre que o marido tem uma doença como a lepra, por exemplo. Isso foi escondido dela propositadamente. Soubesse ela não sabia e ele tão pouco disse que era doente. Alguns que são estéreis e escondem isso, porque o outro deseja muito ter filhos. Nesses casos há aí uma falta do consentimento na hora ele consentia em casar, mas não sabia que estavam escondendo dela esse detalhe. Gente o casamento é para toda a vida e por isso, a Igreja exige que haja essa verdade, essa transparência. Não se pode esconder, simular, induzir a pessoa a ir para o casamento enganada. Ela tem o direito de saber com que está casando. Ela tem o direito de saber, quem é a outra pessoa e a partir daí, escolher porque é para toda a vida. Por exemplo, filhos adotados. Alguém quer casar e é filho adotivo. E ela pensa que é legítimo. E depois que casa descobre que foi enganada por aquela família, ele ou ela era adotado. Isso pode acontecer de ter aí a falta do consentimento. Eu dei meu consentimento, mas eu pensei que estivesse casando com filho legítimo. Aí a gente pensa que isso é uma tolice, mas não é, porque o casamento é tão sério que temos que saber com quem estamos casando. Tem que haver essa verdade, essa transparência. Tudo isso que estou falando é levado pela simulação. Mas, eles casam, há a consumação e tempo depois aparece uma doença, um fato novo, mas que não era simulação, algo escondido, não é motivo para achar que o casamento não está valendo pois tem que haver essa característica de simulação, de esconder a verdade. Tem que haver entre os noivos a transparência. Com quem eu vou casar, construir meus filhos... Partilhar como é que eu vou educar os meus filhos, haver esse aprofundamento, é toda uma vida que vai ser construída.
Há também o caso de medo. Isso aconteceu muito tempo atrás. Quem de nós ouviu falar da história do rapaz que casou obrigado, com o revólver. Ele não era livre. Isso pode ser também uma característica de falta de consentimento. Mas, mesmo que tenha acontecido alguns desses fatores na época do casamento, mas os noivos se amam, se querem, basta renovar o consentimento. A graça do matrimônio é imensa, ultrapassa o nosso entendimento. Casais onde há muita briga, tem muita dificuldades, tem que procurar alguém que ore por eles, mas é fundamental que renovem em sua vida particular, no seu relacionamento mútuo, aquelas palavras que foram ditas lá no altar e que tem uma graça e uma dimensão de cura interior profunda, porque é através dela que Deus instituiu o sacramento. Podemos até pensar que são palavras a mais, que são ditas ou algo para mexer com os sentimentos. Não é. Assim como a confissão renova as graças santificantes do batismo, renovar esse consentimento é renovar o matrimônio, é como que dar a ambos o começar de novo, resgatar a graça que foi dada no dia do sacramento é um resgate dessa graça.
Muitas pessoas vivem numa imaturidade tão profunda ou numa busca desenfreada de prazer, e num egoísmo tão grande que vemos um caso desses. Isso, infelizmente, é o reflexo da nossa sociedade. Muitas vezes é o reflexo dos nossos filhos que não são preparados, acompanhados e ajudados para tomar decisões na vida. E quem tem mais de 5 anos de casados com certeza sabe disso, que casamento não é brincadeira, é muito difícil, eu me pergunto se não é a vocação mais difícil de levar para Deus, mas não é. Quando queremos levar a coisa a sério diante de Deus começamos a perceber as dificuldades. E o casamento é maravilhoso, tem a graça de fazer homem e mulher uma só pessoa é o único sacramento que tem a graça de homem e mulher ser um só, mas tem desafios a vencer, como é que educamos nossos filhos? Acorda de manhã, tem tudo nas mãos, volta do colégio, tem tudo nas mãos. Ah ele não pode passar dificuldades. Na briga do colégio a culpa é do outro, levou, dê duas. Aí fulano pediu meu caderno, para que você emprestou? E vamos criando dentro do lar pessoas egoístas. Vamos vivendo em um ambiente onde os filhos não podem passar sacrifícios. Conheço uma família que eu fiquei abismada, que para fazer os 15 anos da filha, venderam carro, telefone, quando casa dá nisso. Não quer dizer que não houve casamento. É simplesmente fruto da sociedade; de uma má formação, má educação, da busca desenfreada de si mesmo.
Ninguém anula casamento. Não existe casamento anulado. O que existe é o tribunal reconhecer que o casamento nunca existiu. É diferente... Pode acontecer que ele nunca tivesse existido. Em todos os casos quando uma das parte está sofrendo de alguma forma, ela deve ir atrás do tribunal eclesiástico, mas quem vai decidir isso é a Igreja. Eu conheço um casal de perto, acompanhei todo o namoro e todo o noivado. Era um casal exemplar! Quando casaram, todos nós ficamos felizes com o casamento deles. 4 meses depois, se separaram. E realmente todo mundo ficou pasmo. E se questionando como podia acontecer isso... O certo é que depois um deles procurou um tribunal e em todo processo alguns amigos foram chamados para depor. Lá no tribunal foi analisado e é quase certo que o casamento deles nunca existiu. O que é que acontecia? Todas as vezes que ele procurava ela para o ato conjugal, ela saia provocando, vomitando, passando mal e tinha horror. E todas as vezes que ele procurava ela de maneira carinhosa, ela não suportava e se separaram. Houve consumação? Não houve. Ninguém pode julgar, falar, ninguém pode. Deus é quem tudo vê e deu à Igreja a sabedoria para analisar cada caso. E quando eu soube desse resultado, eu tive pena mas ao mesmo tempo glorifiquei a Deus. Fiquei realmente com muita compaixão, mas, ao mesmo tempo fiquei feliz porque não era a desestrutura que eu pensava, então cada caso é um caso.
Tudo que falei aqui, gostaria que ficasse fundamentado em nosso coração que temos uma graça muito grande em nosso casamento que é derramada por Deus constantemente. E devemos sim, renovar esta graça constantemente. Repetir a fórmula muitas vezes, na sua oração pessoal, de maneira individual, para nós mesmos. Precisamos alertar o nosso coração o quanto está egoísta, rejeitando o outro. Acontece muitas vezes que esquecemos que é para sempre, até que a morte os separe, porque conduz ao céu. Deus espera isso de nós, porque isso é uma maneira de servir a Deus também, de servir a Jesus.
5º. MATRIMÔNIO: COMO ESCOLA INTENSIVA DO AMOR DE DEUS
O matrimônio é uma das melhores escolas do amor de Deus, o lugar onde Ele quer educar muitos de seus alunos.
Assim afirma dom Cormac Burke, que atualmente ensina antropologia na Universidade Strathmore de Nairobi (Quenia).
- Quais são as «leis da felicidade» e como se encontram e vivem no matrimônio cristão?
- Dom Burke: A primeira coisa que se deve ter em conta é que o matrimônio não pode dar a felicidade perfeita, nem nada parecido aqui na terra. O propósito não é dar aos esposos essa felicidade, mas amadurecê-los para ela.
Em tudo aqui, na terra, Deus está tentando ensinar-nos a amar, o que desfrutaremos plenamente no céu. O matrimônio é uma das mais intensivas escolas de amor, onde Deus quer treinar muitos de seus alunos.
A felicidade exige um esforço. Quando uma pessoa casada em dificuldades se permite pensar: «Conseguirei o divórcio e me casarei com outro homem ou outra mulher, porque serei mais feliz com ele ou com ela», está dizendo na realidade, «minha felicidade depende de que não me seja pedido demais. Serei feliz só se não tenho que fazer muito esforço para amar».
A pessoa que escolhe pensar assim nunca pode ser feliz, porque a felicidade é sobretudo uma conseqüência de dar-se, como dizem os Atos dos Apóstolos (20,35): «Há mais felicidade em dar que em receber».
A felicidade não é possível nem dentro nem fora do matrimônio para aquela pessoa que está determinada a conseguir mais do que ele ou ela esteja disposto a dar.
No matrimônio, portanto, tem que se aprender a amar. Se a pessoa não aprende, seguirá apegada a seu egoísmo, como o diabo ou a alma no inferno. Contudo, o matrimônio é uma instituição divina que gradualmente os tirará desse egoísmo.
Também se tem que empenhar nesta tarefa, que é inscrever-se de forma definitiva nesta escola de amor. Se só se prepara somente para dar amor com um único intento e abandonar se não parece que funciona, não funcionará, nem nunca se converterá em uma pessoa capaz de amar.
- Como consegue, aprofunda, amadurece e faz permanente no matrimônio a felicidade pessoal de cada um?
- Dom Burke: Sobretudo saindo de nós mesmos. Nunca conseguiremos começar este caminho de felicidade até que sejamos conscientes de que o principal obstáculo somos nós mesmos --nossas preocupações, inquietudes e cálculos centrados em nós mesmos. Paradoxalmente tudo isto é obstáculo para nossa felicidade pessoal.
Para o cristão, este paradoxo não deveria ser difícil de entender, porque vem do ensinamento do coração de Cristo sobre aqueles que salvam suas vidas de modo egoísta e calculador: «Quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem a perde por minha causa, a encontrará». A frase «por minha causa» aponta o que é bom, generoso, puro e meritório.
Um dos erros modernos mais comuns é pensar que a felicidade vem do cálculo. Pensamos que nossa felicidade depende de considerar as coisas de maneira inteligente e cuidadosa: «Mais disto, menos disto, far-me-á feliz?»; não é assim. A felicidade pessoal e a felicidade no matrimônio dependem principalmente da generosidade e do sacrifício.
- Como podem os filhos trazer felicidade ao matrimônio e a cada um dos esposos individualmente?
- Dom Burke: Este século veio a separar e opor plenitude matrimonial e filhos. Muitos olham o matrimônio de maneira como os filhos são considerados como uma possível vantagem ou um possível obstáculo ao cumprimento pessoal. Isto é fundamentalmente não confiar no desenho de Deus para o matrimônio.
Quem se casa necessita ponderar que cada filho é um presente totalmente único e irrepetível para a união dos esposos. Também necessitam dar-se conta de que os filhos desafiam a capacidade de amar de cada um dos esposos ainda mais que a vida conjugal em si mesma. Só a pessoa que está preparada para fazer frente aos desafios do amor crescerá no amor.
Quarenta anos colocando ênfase na auto-realização ou no conforto material foram acompanhados de uma ênfase similar em limitar a família.
Os filhos um ou dois, na maior parte dos casos viram-se considerados como «extras opcionais» para um casal, não como o cumprimento natural de suas aspirações matrimoniais. Emprego, status, vida social, ocupações, férias, tranqüilidade e conforto parecem oferecer mais felicidade que os filhos.
Contudo, se julga-se pelo crescente número de lares destruídos, menos filhos não parece que tenha levado a uma maior estabilidade, plenitude ou felicidade matrimoniais. Os casais católicos se viram também profundamente afetados pela mentalidade da planificação familiar, até o ponto que se apresenta uma família «planificada» como a norma na instrução pré-matrimonial. Provavelmente a maioria de nossos jovens se case hoje considerando a planificação natural como uma parte normal do matrimônio; muitos, para os que nunca se projetou, estão experimentando seus efeitos em sua vida matrimonial.
- O que pode ser obstáculo para a felicidade conjugal?
- Dom Burke: O sacramento do matrimônio dá especiais graças a um casal para perseverar na missão de cuidar um do outro e dos filhos que Deus lhes dê. Ser negligentes com o sacramento pode de fato por obstáculo a esta felicidade, porque o sacramento leva sua graça sacramental uma ajuda específica de Deus que ajuda os casais a viver o compromisso que implica o amor matrimonial.
O matrimônio não é um sacramento ao que se «vai» com freqüência, como ocorre com a sagrada comunhão; é um sacramento que se recebe uma vez. Mas para ser fiel se necessita invocar a graça do sacramento constantemente, como um sacerdote necessita invocar o sacramento de sua ordenação.
- Como contribui a «teologia do corpo» de João Paulo II à felicidade conjugal?
- Dom Burke: O Papa João Paulo II apresenta o corpo como um instrumento de comunhão interpessoal, ensinando que isto é verdade quando se respeita o pleno significado humano do corpo e da relação intercorporal, o que não faz a anticoncepção. Anular deliberadamente a orientação à vida do ato conjugal é destruir seu poder essencial de significar união.
A anticoncepção nega a «linguagem do corpo». Volta o ato conjugal em autodecepção, ou em uma mentira mútua entre os próprios esposos; aquele que verdadeiramente não se está doando, na realidade não está aceitando o outro.
- Que papel desempenha a liberdade no matrimônio?
- Dom Burke: Muitos consideram hoje que se ater em uma eleição irrevogável leva a perder a própria liberdade. Não é assim. Casar-se é confiar em si mesmo em um exercício constante e amoroso da liberdade.
Que classe de amor é o que prefere deixar uma «saída» sempre aberta? A pessoa verdadeiramente enamorada não teme perder sua liberdade, mas perder seu amor. Não é a liberdade para comprometer-se o que se deve temer, senão a liberdade de respaldar o próprio compromisso.
A liberdade que deveria assustar-nos é a liberdade de ser infelizes que nos acompanha até o fim. Por isso o amante humilde sente a necessidade de orar, «Senhor, faz-me fiel».
E é também pelo que os que se retiram estão tristes, porque não só abandonaram a quem deveriam amar, também se abandonaram a si mesmos. Não há caminho fácil para a felicidade. Aqueles que buscam o divórcio devido às dificuldades que implica o matrimônio estão simplesmente sendo burlados pelo que implica a felicidade. Estão pondo-se no caminho que conduz longe da felicidade.
- Como pode levar os casais à verdadeira felicidade o seguimento dos ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio, os filhos e a anticoncepção?
- Dom Burke: Se um casal não observa os ensinamentos da Igreja pode parecer feliz hoje, provavelmente a sua é uma felicidade muito superficial com uma grande parte de egoísmo por conquistar. E há poucas possibilidades de que sejam felizes amanhã.
Em contraste com isto, também há hoje muitos casais que tentam estar incondicionalmente nas mãos de Deus, aceitando tanto que seu matrimônio «durará» como que Deus é o melhor planificador familiar natural. Deus é quem tem mais conhecimento e mais longa experiência, quem melhor conhece a resposta à pergunta: «Quantos filhos podem coroar nosso projeto familiar?».
Quando se olha a questão da felicidade desde um ponto de vista puramente individual e, em última instância, com preocupação por si mesmo, será difícil que se compreenda todo o positivo que há no ensinamento da Igreja. A felicidade de um cristão reside também em ser partícipe nos planos de Deus. O sentido deste privilégio tem que estar na raiz de nossa felicidade.
Os casais casados de hoje necessitam ter mais consciência do maravilhoso testemunho que estão chamados a dar ao mundo que não confia em Deus. O Papa João Paulo II escrevia na «Familiaris Consortio» que «dar testemunho do inestimável valor da indissolubilidade e fidelidade matrimonial é um dos deveres mais preciosos e urgentes dos casais cristãos de nosso tempo».
A indissolubilidade e a procriação são dois grandes valores do matrimônio que são vistos hoje como cargas negativas, quando são as chaves para a verdadeira plenitude e felicidade. Um casal unido e feliz é um testemunho da possibilidade e o valor de um amor inquebrantável, assim como uma família unida e feliz é um testemunho da benção dos filhos.
SEXUALIDADE E MATRIMÔNIO
- Vamos abrir o livro do Gênesis e observar que em toda a sua criação, Deus cria em virtude sua palavra: Faça-se! (Exemplos Gn 1,3 ; Gn 1,6). Porém é significativo que esta palavra de Deus, no caso da criação do homem seja completada pôr: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança"(Gn 1,26). O Criador como que reentra em si mesmo para procurar o modelo e a inspiração no mistério do seu ser, que já aqui se manifesta como o "Nós" divino (Pai, Filho e Espírito Santo).
Este Nós divino constitui o modelo eterno do nós humano. O ser humano é criado desde o princípio como homem e mulher, e suas vidas estão marcadas por esta dualidade primordial. Dela derivam a masculinidade e a feminilidade. "Ele os criou homem e mulher", esta é também a primeira afirmação da igualdade do homem e da mulher, seu caráter de comunhão e complementariedade.
A sexualidade é antes de tudo um grande dom de Deus, dado ao homem para sua alegria. O homem é um ser totalmente sexuado, é metade, incompleto, seccionado. A sexualidade é como que um dinamismo difuso e operante em todo o ser do humano, impregna todas as faculdades e atividades pessoais e caracteriza o eu como indivíduo singular.
Só em Deus, como o supremo outro, se aquieta a dinâmica da nossa sexualidade. Deus sendo total e único em suas três pessoas, chama o homem a abertura e doação de si mesmo. A Santíssima Trindade é o perfeito modelo de abertura.
Numa deturpação e inversão do significado da sexualidade, mistura-se com o termo genitalismo. O genitalismo é a doença pela qual a sexualidade é reduzida ao exercício dos órgãos genitais. Para o genitalista, sexo é uma dimensão apenas carnal, restrita ao órgãos genitais, ele não pratica sexo, apenas usa os órgãos genitais.
Explicando Melhor:
Órgãos genitais - servem a procriação, são exócrinos: pênis, testículos, ovários, útero, mamas.
Órgãos sexuais - são glândulas de secreção interna (endócrina): hipófise, pituitária, hipotálamo, tireóide, etc. servem para a produção de hormônios que regem a sexualidade.
Este tipo de desvio leva o homem a problemas graves, gerando feridas que afetam a sua afetividade, dignidade e relação com Deus.
Causas do genitalismo:
Com o genitalismo se comete pecados graves contra:
Ofensas contra a castidade:
6º. SACRAMENTO da RECONCILIAÇÃO OU SACRAMENTO DA CONFISSÃO:
“Procurai o Senhor, já que Ele se faz encontrar, chamai-O, pois Ele está próximo.
Que o mal abandone seu caminho e o malfeitor seus pensamentos. Que ele retorne para o Senhor, o qual lhe manifestará sua ternura para o nosso Deus que é pródigo em perdoar”. (Isaías, 55)
Sabemos que Deus pode nos curar e que está sempre disposto a nos perdoar, mas achamos que isso só acontecia na época de Jesus, ou seja, que esses dons ficaram relegados aqueles que conviveram com Ele. Mas isso não é verdade, Jesus é sempre o mesmo, vive entre nós e o seu dom de cura e sua disposição de nos perdoar continuam agindo entre nós.
Deus nos conhece profundamente
Se Deus nos ama e conhece profundamente, por que permite que pequemos? É preciso dizer, em primeiro lugar, que ao contrário do que muitos pensam, Deus jamais pode causar o mal. Embora seja Todo-Poderoso, não interfere em nossa liberdade, pois conhece-nos antes de sermos concebidos. Quando pecamos, Deus-Pai aguarda pacientemente nosso retorno, como na parábola do filho pródigo: fica nos esperando ansiosamente, olhando o horizonte até que seu filho apareça para depois correr-lhe ao encontro para abraçá-lo e perdoá-lo.
O peso do pecado e a paz da absolvição
Embora invisível, o pecado pesa, parece um fardo que se carrega nas costas. Também é verdade que depois da absolvição dos pecados sentimo-nos leves, alegres por que estamos em paz com Deus conosco.
A Confissão é o sacramento da misericórdia de Deus.
Se o pecado nos faz sentir acorrentados, o arrependimento nos devolve a alegria e a liberdade. Deus não resiste ao homem, quando este chora pelos seus pecados e é nesse momento que Ele derrama sobre nós curas e bênçãos.
Perdoar para receber o perdão
“Mas quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém”.
Na verdade, se não estivermos dispostos a perdoar o nosso irmão do fundo do coração, nossa oração não será ouvida e não receberemos o perdão. Eliminemos todo e qualquer ressentimento, toda amargura, confessando-a e levando-a diante do Senhor. Só assim Ele estará agindo em nós e nos curando dos pecados.
Exame de consciência
Ao iniciarmos o nosso exame de consciência, invoquemos o Espírito Santo para que, com Sua luz, nos faça reconhecer nossas faltas e pecados. Podemos procurar um lugar tranqüilo, colocar-nos diante de Deus e deixar o silêncio entre nossa alma. Uma vez na presença de Deus, deve-se começar o exame com um ato de humildade, ou seja, é preciso assumir uma atitude de aceitação de nossas faltas. O objetivo mais importante do exame de consciência é alcançar a contrição dos pecados cometidos. Para nos confessarmos, devemos nos arrepender de ter ofendido a Deus e devemos assumir o propósito de emendar-nos. A melhor maneira de chegar á contrição é meditar na Paixão de Cristo. Jesus morreu para nos salvar, e é na Sua Paixão que se manifesta toda Sua misericórdia.
Meditando a Paixão, chegaremos a compreender a maldade de nossos pecados. Ao longo de toda a história do cristianismo, são inúmeros os casos dos que se converteram meditando a Paixão: corações de pedra transformados em corações de carne, cheios de arrependimento. Diz-se que a contrição é “perfeita” quando nasce do amor a Deus, isto é, quando nos arrependemos profundamente pelo fato de nos termos afastado de nosso Deus. A contrição é “imperfeita” (atrição) quando a dor por termos pecado nasce do medo do castigo ou da condenação eterna.
Peçamos ao Senhor o dom das lágrimas! Choremos não pelo medo de castigo, mas pela dor de ter ofendido a Deus.
A DIMENSÃO DA CONFISSÃO: ABSOLVIÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA
Com data 28.02.2001, a Conferência episcopal portuguesa publicou a Instrução pastoral «O ministério da reconciliação» em que trata do tema do sacramento da penitência e dá normas concretas sobre as absolvições coletivas no nosso país. Estabelece princípios de ordem disciplinar bem esclarecedores para delimitar corretamente a questão e evitar abusos que talvez se tenham introduzido entre nós nesta matéria.
Na carta aos sacerdotes por ocasião da 5ª feira santa deste ano, o Santo Padre volta a insistir, pela sua importância, em tema tão fundamental como é o tema da confissão.
O prof. Fernando Silva faz um breve resumo desta matéria do maior interesse para os nossos leitores.
Publicado na Agencia Ecclesia, 26.02.2002
A dimensão da confissão: absolvição individual e coletiva
Todas as pessoas sentem necessidade de procurar uma libertação de tudo aquilo que constitui um peso na consciência, ou seja, alguma coisa que não esteve de acordo com a verdade que trazem esculpida no seu íntimo.
Um dom de Jesus Cristo à Igreja.
Conhecendo inteiramente a psicologia humana e as suas carências, Jesus Cristo, na mesma tarde da Ressurreição, instituiu um Sacramento libertador: o da reconciliação e penitência. Com efeito, aparecendo aos apóstolos no Cenáculo, soprou sobre eles, – gesto sempre associado à comunicação do Espírito, – e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo, àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20,22 e ss.).
Estamos perante um caminho sem alternativas para recuperar a graça santificante perdida pelo pecado mortal. Não faria sentido que o Mestre entregasse com tanta solenidade à Igreja – ali presente nas suas colunas – um poder sem conteúdo, que para nada serviria, na prática, se houvesse outros modos ordinários de alcançar o perdão das faltas graves.
Por isso, a Igreja interpretou sempre estas palavras como as institucionais deste Sacramento.
No seu ritual de administração, ao longo dos séculos, houve modificações acidentais, como aconteceu com outros sacramentos, mas o núcleo essencial permaneceu intacto.
Esta verdade foi aceite pacificamente na Igreja, desde o seu nascimento, sem qualquer contestação generalizada, até ao dia em que foi agitada pela tempestade da pseudo-reforma. Estamos já nos primeiros anos do século XVI.
Depois de um estudo profundo, a Igreja definiu no concílio de Trento, como verdade de fé irreformável, que o meio ordinário para obter o perdão dos pecados graves cometidos depois do batismo e ainda não devidamente confessados é a confissão íntegra e contrita de todos os pecados graves cometidos.
Com esta riqueza, nunca suficientemente agradecida, Jesus Cristo quis associar à recepção deste sacramento, além do perdão dos pecados, outras graças: a graça sacramental que nos robustece para as lutas de cada dia; uma crescente delicadeza de consciência e finura no trato com Deus; a humildade; e até a oportunidade de um conselho amigo.
Absolvições gerais sem confissão prévia
Acontece, porém, que muitas vezes escasseia tempo suficiente para dar a absolvição individual, depois da acusação dos pecados.
Desde os primeiros passos da sua vida terrena, a Igreja sentiu a necessidade de dar a absolvição simultânea a diversos penitentes, sem a acusação prévia dos pecados. Pensemos, por exemplo, na situação criada pela iminência dum naufrágio, no princípio duma batalha, etc. Ao mesmo tempo, defendia a necessidade da confissão íntegra e absolvição individual, quando era possível fazê-lo.
Depois da solene intervenção do concílio de Trento, Inocêncio XI, em 1679, desautorizou uma afirmação que começava a ganhar terreno, segundo a qual o sacerdote podia absolver o penitente que confessasse só alguns dos seus pecados, por causa da aglomeração dos penitentes.
Foi, porém, com a invenção de transportes rápidos, por terra, ar e mar, que o problema se pôs com maior acuidade. Assim, sobretudo a partir da primeira guerra mundial, era fácil que multidões de soldados se encontrassem inesperadamente em situação de batalha, ou cidades inteiras ameaçadas por bombardeamentos. E assim, a doutrina de sempre vai sendo aplicada às situações diversas que vão surgindo.
Quando estava prestes a terminar a segunda guerra mundial, Pio XII, receando que a doutrina aplicada no decurso deste conflito fosse usada abusivamente, publicou uma Instrução em 25 de março de 1944. Esta foi praticamente reproduzida nas Normas pastorais da congregação para a doutrina da fé, com a data de 16 de Junho de 1972.
Foi a Doutrina destas Normas, com pequenas alterações de texto, que apareceu no Código de direito canônico de 1983. Referem-se às absolvições coletivas os cânones 961 - 963.
O cânone 961 estabelece o seguinte: «A absolvição simultânea a vários penitentes sem confissão individual prévia não pode dar-se de modo geral, a não ser que:
1º esteja iminente o perigo de morte, e não haja tempo para um ou mais sacerdotes poderem ouvir a confissão de cada um dos penitentes;
2º haja necessidade grave, isto é, quando, dado o número de penitentes, não houver sacerdotes suficientes para, dentro de tempo razoável, ouvirem devidamente as confissões de cada um, de tal modo que os penitentes, sem culpa própria, fossem obrigados a permanecer durante muito tempo privados da graça sacramental e da sagrada comunhão; não se considera existir necessidade suficiente quando não possam estar presentes confessores bastantes, somente por motivo de grande afluência de penitentes, como pode suceder nalguma grande festividade ou peregrinação.
Estabelece-se ainda que os fiéis devem estar devidamente preparados e que não podem, em regra, aproximar-se a receber nova absolvição coletiva, sem antes terem recebido a absolvição individual; e que a absolvição geral antes recebida não dispensa da acusação e absolvição, em confissão individual, de todos os pecados graves cometidos depois do batismo e ainda não devidamente confessados.
Em suma: os pecados ficam perdoados, se a absolvição geral foi recebida com as necessárias disposições: contrição, propósito de emenda e satisfação de obra.
O fiel, porém, sai dali com duas obrigações: procurar quanto antes a confissão individual, para acusação dos pecados que não pôde confessar e recepção da absolvição individual; e proibição – a não ser em caso de necessidade grave – de aceder a uma nova absolvição geral sem previamente ter procurado a absolvição individual.
Há pouco tempo ainda, a Conferência episcopal portuguesa pronunciou-se sobre este assunto, nos seguintes termos: «A Conferência Episcopal Portuguesa julga não existirem nas dioceses de Portugal situações habituais previsíveis em que se verifiquem os elementos referidos no Código de direito canônico como originando a 'necessidade grave' para a absolvição geral sem confissão prévia.
Na eventualidade de surgirem situações excepcionais, o bispo diocesano providenciará para que tanto os presbíteros corno os fiéis procedam corretamente».
«De igual modo, esclareçam-se as comunidades cristãs sobre o sentido deste procedimento excepcional e a doutrina da Igreja sobre o sacramento da Penitência e sua celebração.» (Instrução pastoral da CEP de 28-II-2001).
Absolvição coletiva sucedâneo da individual?
Pelo que fica dito muito resumidamente, não se trata, pois, de a pouco e pouco ir modificando a forma de administração deste Sacramento, de tal modo que a meta previsível fosse que a absolvição coletiva acabasse por substituir definitivamente a absolvição individual. Trata-se, isso sim, de casos pontuais a que se deve dar uma resposta pontual.
De fato, numa época em que se sublinha com tanto ênfase a atenção personalizada, não é justo privar arbitrariamente os fiéis, – contra a vontade do Divino Fundador da Igreja – deste direito à confissão individual.
Parte da solução do problema da falta de tempo talvez esteja em o sacerdote dedicar mais tempo ao ministério deste Sacramento, renunciando com desprendimento às tarefas que não exigem necessariamente um sacerdote; em preparar melhor os fiéis para este sacramento, para que o recebam com fruto e demorem só o tempo necessário; em dignificar este sacramento, administrando-o em lugares bem preparados. Cada pessoa merece-nos toda a atenção e tem de ser ajudada individualmente, sem massificação, sobretudo numa área tão delicada como é a do foro da consciência.
Foi esta dedicação sacerdotal que levou santos que estão nos altares – santo Cura D'Ars, são João Bosco, Beato Josemaría Escrivá, são João da Cruz e tantos outros – a tratar cada pessoa como uma jóia preciosa que é preciso burilar com alma de artista.
Confissão ou penitência é o sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para que os cristãos possam ser perdoados de seus pecados, e receberem a graça santificante. Também é chamado de sacramento da Reconciliação.
O sacramento da Penitência foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo nos ensina o Evangelho de São João: “Depois dessas palavras (Jesus) soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem vocês perdoarem os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo. 20,22 - 23)
Sim, a Igreja tem esta autoridade porque a recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu”(Mt. 18,18).
Só Deus perdoa os pecados. O Padre, mesmo sendo um homem sujeito às fraquezas como outros homens, está ali em nome de Deus e da Igreja para absolver os pecados. Ele é o ministro do perdão, isto é, o intermediário ou instrumento do perdão de Deus, como os pais são instrumentos de Deus para transmitir a vida a seus filhos, como o médico é um instrumento para restituir a saúde física, etc.
Sim, obedientes aos ensinamentos de Cristo e da Igreja, todos os Padres, Bispos e mesmo o Papa se confessam com freqüência, conforme o mandamento: “Confessai os vossos pecados uns aos outros ” (Tg. 5,16 ).
Para se fazer uma boa confissão são necessárias 5 condições: a) um bom e honesto exame de consciência diante de Deus; b) arrependimento sincero por ter ofendido a Deus e ao próximo; c) firme propósito diante de Deus de não pecar mais, mudar de vida, se converter; d) confissão objetiva e clara a um sacerdote; e) cumprir a penitência que o mesmo nos indicar.
Diga o tempo transcorrido desde a última confissão. Acuse (diga) seus pecados com clareza, primeiro os mais graves, depois os mais leves. Fale resumidamente, mas sem omitir o necessário. Devemos confessar os nossos pecados e não os dos outros. Porém se participamos ou facilitamos de alguma forma o pecado alheio, também cometemos um pecado e devemos confessá-lo (por exemplo, se aconselhamos ou facilitamos alguém a praticar um aborto, somos tão culpados como quem cometeu o aborto).
Além de ser uma confissão totalmente sem valor, é uma grave ofensa à misericórdia Divina. Quem a pratica, comete um pecado grave de sacrilégio.
Somos obrigados a confessar todos os pecados graves (mortais). Mas é aconselhável também confessar os pecados leves (veniais) para exercitar a virtude da humildade.
São ofensas graves à Deus ou ao próximo. Apagam a caridade no coração do homem; desviam o homem de Deus. Quem morre em pecado grave (mortal) sem arrependimento, merece a morte eterna, conforme diz a Escritura: “Há pecado que leva à morte” (1Jo. 5,16b).
São ofensas leves a Deus e ao próximo. Embora ofendam a Deus, não destroem a amizade entre Ele e o homem. Quem morre em pecado leve não merece a morte eterna. “Toda iniqüidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte” (1Jo. 5, 17).
São pecados graves por exemplo: O assassinato, o aborto provocado, assistir ou ler material pornográfico, destruir de forma grave e injusta a reputação do próximo, oprimir o pobre o órfão ou a viúva, fazer mau uso do dinheiro público, o adultério, a fornicação, entre outros.
R: Merece a condenação eterna. Porém somente Deus que é justo e misericordioso e que conhece o coração de cada pessoa pode julgar.
Para que haja pecado grave (mortal) é necessário: a) conhecimento, ou seja a pessoa deve saber, estar informada que o ato a ser praticado é pecado; b) consentimento, ou seja a pessoa tem tempo para refletir, e escolhe (consente) cometer o pecado; c) liberdade, significa que somente comete pecado quem é livre para fazê-lo; d) matéria, significa que o ato a ser praticado é uma ofensa grave aos mandamentos de Deus e da Igreja. Estas 4 condições também são aplicáveis aos pecados leves, com a diferença que neste caso a matéria é uma ofensa leve contra os mandamentos de Deus.
Se esquecestes realmente, o Senhor te perdoou, mas é preciso acusá-lo ao sacerdote em uma próxima confissão.
Não sentir peso na consciência (remorso) não significa que não tenhamos pecado. Se nós cometemos livremente uma falta contra um mandamento de Deus, de forma deliberada, nós cometemos um pecado. A falta de remorso pode ser um sinal de um coração duro, ou de uma consciência pouco educada para as coisas espirituais. (por exemplo, um assassino pode não ter remorso por ter feito um crime, mas seu pecado é muito grave).
Toda confissão apaga completamente nossos pecados, até mesmo aqueles que tenhamos esquecido. Nos dá a graça santificante, tornando-nos naquele instante uma pessoa santa. Tranqüilidade de consciência, consolo espiritual. Aumenta nossos méritos diante do Criador. Diminui a influência do demônio em nossa vida. Faz criar gosto pelas coisas do alto. Nos exercita na humildade e faz crescer todas as virtudes.
Se somos conhecidos de nosso pároco, devemos neste caso fazer a confissão com outro padre para nos sentirmos mais à vontade. Em todo caso antes de se confessar converse com o sacerdote sobre a sua dificuldade. Ele usará de caridade para que a sua confissão seja válida sem causar-lhe constrangimentos. Lembre-se, ele está no lugar de Jesus Cristo!
A penitência proposta no fim da confissão não é um castigo; mas antes uma expressão de alegria pelo perdão celebrado.
CONFISSÃO:
1422 - "Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade, exemplo e orações”.
1423 - Chama-se sacramento da Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de Jesus à conversão, o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado. Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão pecador.
1424 - É chamado sacramento da Confissão porque a declaração, a confissão dos pecados diante do sacerdote é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse sacramento também é uma "confissão", reconhecimento e louvor da santidade de Deus e de sua misericórdia para com o homem pecador.
Também é chamado sacramento do perdão porque pela absolvição sacramental do sacerdote, Deus concede "O perdão e a paz".
É chamado sacramento da Reconciliação porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia: "Reconciliai-vos com Deus" (2Cor. 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus está pronto a responder ao apelo do Senhor: "Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão" (Mt. 5,24).
1426 - A conversão a Cristo, o novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram "santos e irrepreensíveis diante dele" (Ef. 1,4), como a própria Igreja, esposa de Cristo, é "santa e irrepreensível" (Ef. 5,27). Entretanto, a nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que a tradição chama de concupiscência, que continua nos batizados para prová-los no combate da vida cristã, auxiliados pela graça de Cristo. É o combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual somos incessantemente chamados pelo Senhor.
1428 - Ora, o apelo de Cristo à conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "reúne em seu próprio seio os pecadores" e que "é ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”. Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana. É o movimento do "coração contrito" (Sl. 51,19) atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro.
1429 - Comprova-o a conversão de são Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O olhar de infinita misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento (cf. Lc. 22,61) e, depois da ressurreição do Senhor, a afirmação, três vezes reiterada, de seu amor por ele. A segunda conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo do Senhor a toda uma Igreja: "Converte-te!" (Ap. 2,5.16).
1431 - A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às más obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas pelos Padres de "animi cruciatus (aflição do espírito)", "compunctio cordis (arrependimento do coração)"
1432 - O coração do homem apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê ao homem um coração novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a ele: "Converte-nos, a ti, Senhor, e nos converteremos" (Lm. 5,21). Deus dá-nos a força de começar de novo. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso coração experimenta o horror e peso do pecado e começa a ter medo de ofender a Deus pelo mesmo pecado, e ser separado dele. O coração humano converte-se olhando para aquele que foi traspassado por nossos pecados.
Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender como é precioso a seu Pai porque, derramado para a nossa salvação, dispensou ao mundo inteiro a graça do arrependimento”.
1435 - A conversão se realiza na vida cotidiana através de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência, pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, e seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitência.
1452 - Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, a contrição é "perfeita" (contrição de caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecados mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão sacramental.
Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de outra forma tentando ocultar conscientemente alguns pecados não colocam diante da bondade divina nada que ela possa remir por intermédio do sacerdote. Pois, "se o doente insistir em esconder do médico sua ferida, como poderá a medicina curá-lo?”.
Mas nossa satisfação, aquela que pagamos pelos nossos pecados, só vale por Jesus Cristo: pois não podendo coisa alguma por nós mesmos, "tudo podemos com a cooperação daquele que nos conforta" (Fl. 4,13). E assim não temo homem de que se gloriar, mas toda a nossa "glória" está em Cristo... em quem oferecemos satisfação, "produzindo dignos frutos de penitência" (Lc. 3,8), que dele tiram a sua virtude, por ele são oferecidos ao Pai e por ele aceitos pelo Pai".
Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus tem como conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações capazes de remediar outras rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação.
“Os doentes devem ser acolhidos como pessoas e cristãos” diz o Papa. Quando as pessoas adoecem, a sua vida muda. Com freqüência não podem mais cuidar de si mesmas e dependem da ajuda de outros. Não podem procurar ninguém, apenas podem esperar que alguém venha ao seu encontro. Já não são valorizadas na vida social, nada valem para a sociedade. Com freqüência, caem no isolamento, perdendo a coragem e a esperança.
No Antigo Testamento o homem vive a doença diante de Deus. A enfermidade se torna caminho de conversão e o perdão de Deus dá início à cura. (Ex 15, 26). O profeta Isaías anuncia em Isaías capitulo 33 que Deus fará chegar um tempo para Sião em que toda falta será perdoada e toda doença será curada.
No Novo Testamento, Jesus não evitou os doentes (Mc 2, 5-12). Porque a sua Igreja não é somente uma comunidade de fé, mas também de vida. Cada um deve sentir que tem nela um irmão e uma irmã: visitar os doentes é uma obra de misericórdia.
Desde as origens, a Igreja tem uma solicitude muito particular para com os doentes: "Há algum enfermo? Mande, então, chamar os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará e, se tiver cometido pecado, será perdoado". (Tg 5, 14-15).
O sacramento ainda é administrado do mesmo modo. O sacerdote reza pelo doente e com o doente. Unge-lhe a fronte e as mãos com o óleo sagrado. Por esta unção santa e pela sua grande misericórdia, o Senhor reconforta com a graça do Espírito Santo, para que, liberto de todos os pecados, conceda a salvação. Depois da unção, o doente recebe a santa comunhão, o "viático" (pão para a viagem).
Quem confia a sua vida a Jesus, quem vive com Jesus, pode ter a certeza de que não será afastado desta comunhão, mesmo em caso de doença ou de perigo de morte. Os fiéis podem segurar-se no seu Senhor. Ele sabe o que é o sofrimento. (Mt 25, 36). Eles podem pedir-lhe ajuda. Podem unir o seu próprio sofrimento ao de Jesus pela vida do mundo.
“Porque nenhum de vós vive para si mesmo, como nenhum de vós morre para si mesmo. Pois, se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Epístola aos Romanos 14, 7-8)
O sacramento da unção dos doentes pode ser administrado no hospital ou numa Igreja e várias pessoas podem recebê-lo. Se a doença perdura ou piora, o doente pode receber o sacramento várias vezes.
Devemos buscar o exemplo de santos, que “inspirados pelos ensinamentos de “Cristo, Médico Divino”, dedicaram a vida e as energias para dar ao mundo da enfermidade, uma feição humana, marcada pela solidariedade” (Papa João Paulo II).
UNÇÃO DOS ENFERMOS OU EXTREMA UNÇÃO:
Nestes dias estamos novamente envolvidos com a questão da extrema unção ou unção dos enfermos. São os casos da Kerri Schiavo e do papa João Paulo II. Foi-lhe dada a extrema unção, diz Carlos Nascimento no noticiário da TV Bandeirantes, o sacramento reservado pela Igreja católica para os agonizantes. Conclusão: vai morrer mesmo. No dia de sua morte, conforme o noticiário, foi-lhe administrada mais uma vez a extrema unção.
Há tempos persegue-me o desejo de escrever algo sobre este assunto. Isso, porque na morte de confrades na província, ouvem-se, com freqüência, colocações como esta: “O frade tal morreu, mas o guardião ou outro frade, ainda lhe deu a unção”. Ele já recebeu a unção dos enfermos, sinal de que está às portas da morte. Ora, a primeira preocupação na hora da morte não é a de dar-lhe a unção, mas a eucaristia, como viático, penhor de vida eterna.
Para Francisco a profissão da fé católica e a vida sacramental são condições para alguém ser admitido à Ordem dos frades menores:
“Os ministros, porém, os examinem diligentemente sobre a fé católica e os sacramentos da Igreja. E se crerem todas estas coisas e as quiserem professar ... a eles digam os ministros a palavra do santo Evangelho ... ” (Regra, Cap. II).
Entre os sacramentos na vida dos frades menores podemos situar sobretudo a eucaristia, a penitência e a unção dos enfermos. Os outros ele os viverá em comunhão com toda a Igreja.
Não foi sem razão que o Concílio Vaticano II mudou o nome desse sacramento: “A ‘extrema-unção’, que também e melhor pode ser chamada ‘unção dos enfermos’ não é um sacramento só daqueles que estão na última agonia. Portanto, tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte, por motivo de doença ou de idade avançada” (SC 73). Na expressão latina se diz: “tempus iam certe habetur”. “Certe” ou “certo”, em latim, significa: certamente, seguramente, sem dúvida. Com estas palavras o Concílio quis resgatar o sentido original deste sacramento, como sacramento dos enfermos, em vista da saúde, conforme a carta de são Tiago, onde se vê que a iniciativa de chamar os presbíteros da Igreja é do enfermo e não de um agonizante ou de outra pessoa da comunidade.
A Introdução geral do Ritual da unção dos enfermos e sua assistência pastoral, reformado por decreto do Concílio, tem a seguinte colocação sobre o sentido e a importância do sacramento: “Este sacramento confere ao enfermo a graça do Espírito Santo, que contribui para o bem do homem todo, reanimado pela confiança em Deus e fortalecido contra as tentações do maligno e as aflições da morte, de modo que possa não somente suportar, mas combater o mal, e conseguir se for conveniente à sua salvação espiritual, a própria cura. Este sacramento proporciona também, em caso de necessidade, o perdão dos pecados e a consumação da penitência cristã. Na sagrada unção, unida à oração da fé (cf. Tg 5,15), esta fé se exprime, e por isso deve ser despertada tanto no ministro do sacramento como sobretudo naquele que o recebe; o doente, com efeito, será salvo pela sua fé e pela fé da Igreja, que contemplam a morte e a ressurreição do Cristo de onde provém a eficácia do sacramento (cf. Tg 5,15), ao mesmo tempo que se voltam para o reino que há de vir, cujo penhor é dado pelos sacramentos” (Rit. n. 6 - 7).
Por isso, o novo Ritual recomenda: “Na catequese comum ou familiar os fiéis sejam instruídos a pedir eles próprios a unção, de modo que possam, sendo-lhes dada sem demora e em tempo oportuno, recebê-la com toda a fé e devoção, sem descambar no péssimo costume de protelar o sacramento. Todos aqueles que prestam assistência a doentes devem também ser instruídos sobre a natureza da Unção dos Enfermos” (Rit. n. 13).
O cuidado pelos enfermos e toda a pastoral dos enfermos que se distingue da pastoral da saúde em geral, é chamado ‘ministério da consolação’ (cf. Rit., n. 32). Para tanto teremos que mudar também nossa linguagem. Não se trata em primeiro lugar de receber a unção e dar a unção, mas de celebrar o sacramento dos enfermos, celebrar o mistério de Cristo que passou confortando, curando e perdoando os enfermos. Como diz a Instrução: contemplar a morte e a Ressurreição do Senhor.
O Espírito é dado aos enfermos para que sejam primeiramente bons doentes, para que na força do Espírito possam viver, na condição de enfermos, sua vocação e missão de batizados, dar testemunho do Senhor morto e ressuscitado. Trata-se do Espírito do conforto e do alívio, o Espírito da vida e da saúde, o Espírito do perdão. A unção com óleo sempre tem a ver com o Espírito Santo. Na unção dos enfermos, o óleo tem significado medicinal, de alívio e de cura. Toda esta orientação foi colocada no Devocionário da família franciscana, p. 423 - 425. Importa que cada fraternidade possua à mão o Ritual renovado.
O sacramento dos agonizantes é a eucaristia, na forma de viático. Tanto assim que a Introdução geral do novo ritual insiste que na hora da morte a comunhão eucarística tem preferência sobre a unção:
“Para atender mais facilmente aos casos particulares, em que os fiéis, por doença repentina ou qualquer outro motivo, se vejam de repente em perigo de morte, recorra-se ao Rito contínuo, pelo qual o enfermo recebe sucessivamente os sacramentos da penitência, da unção e da eucaristia sob forma de viático. Porém, se há perigo de morte iminente e não houver tempo para ministrar todos os sacramentos do modo que foi estabelecido, dê-se primeiro ao doente a oportunidade de uma confissão sacramental, ainda que realizada genericamente em caso de necessidade; em seguida seja-lhe dado o viático, que todos os fiéis em perigo de morte têm a obrigação de receber. Finalmente, se ainda houver tempo, seja-lhe ministrada a sagrada unção. Se, por motivo de enfermidade, não puder receber a sagrada comunhão, seja-lhe conferida a unção dos enfermos” (Rit., n. 30).
Aqui se supõe que o sacramento dos enfermos já tenha sido celebrado anteriormente, mesmo várias vezes. Claro que o sacramento da unção dos enfermos também é de grande significado, quando se celebra a páscoa definitiva, para que o enfermo possa viver a passagem para o Pai, na força do Espírito Santo, possa unir-se a Cristo também na morte para com ele participar da glória na páscoa definitiva. Portanto, na hora da morte, não está em primeiro lugar a unção dos enfermos, mas a reconciliação e o viático. A unção dos enfermos situa-se em outro lugar no cuidado ou na pastoral dos enfermos que inclui a visita ao enfermo, a reconciliação e a unção.
Para que esta nova compreensão do sacramento dos enfermos apresentada pelo Concílio e o novo Ritual se torne realidade temos que mudar de mentalidade e superar um longo tabu de mais de mil anos. Importante é que o enfermo, também o frade, tome a iniciativa de pedir a presença dos irmãos para juntos celebrarem o mistério da Páscoa, o Cristo médico da humanidade, o Cristo que confortava os doentes, os curava e perdoava, na experiência da enfermidade, na esperança da saúde. Será de grande proveito realizar de vez em quando uma celebração comunitária fora do contexto da morte iminente, em que participe toda a Fraternidade com os confrades enfermos e idosos, como já se tem feito em algumas Fraternidades. Que apareça o caráter celebrativo do sacramento, fugindo de uma compreensão meio mágica de receber e administrar os sacramentos, pois somos chamados a celebrar e a viver os sacramentos.
7º. SACRAMENTO DA ORDEM:
DIACONATO, PRESBITERATO E EPISCOPADO:
Jesus Cristo o "Sumo e Eterno Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque" (Hbr. 5,6; 5,10; 8,6) instituiu o sacramento da ordem que imprime um caráter indelével a quem o recebe, cabendo à autoridade da Igreja a decisão de aceitar os candidatos ao sacerdócio, depois de uma preparação doutrinal, litúrgica e pastoral adequada
O "sacerdote" ("sacer-facere") é o mediador entre o homem e Deus no exercício do culto sagrado; entre católicos e ortodoxos.
Todo batizado é um sacerdote; contudo para exercer um sacerdócio ministerial, como por exemplo , celebrar a missa, o sacramento da penitência , a unção dos enfermos, os batizados necessitam das ordens sagradas.
As sagradas ordens eram - ordens menores - o ostiarato, o leitorato, o exorcistato e o acolitato; o subdiaconato é considerado um sacramental. As ordens maiores são o diaconato, o presbiterato e o bispado.
Com as modificações do papa Paulo VI, na década de setenta , permaneceram três graus no sacramento da ordem ( as antigas ordens maiores ): o episcopado, o presbiterato e o diaconato. São ordens da Igreja, portanto: o episcopado, o presbiterato e o diaconato.
O leitorato e o acolitato transformaram-se em ministérios , e foi criado o diaconato permanente para leigos que não seguirão na carreira eclesiástica. O Concílio Vaticano II instituiu o diaconato como grau permanente conferível também a casados.
Nas comunidades cristãs primitivas, o diaconato era conferido também às mulheres, geralmente viúvas.
Os sacerdotes regulares estão vinculados à regra de uma ordem religiosa; os padres seculares , submtem-se diretamente ao bispo e operam no âmbito da diocese de sua jurisdição.
O termo bispo vem do grego "epíscopos", ou seja, vigiar , atuar como supervisor. O sucessor dos apóstolos, recebe com a sagração episcopal a missão de santificar, ensinar e governar, a ele confiada no âmbito de um território definido, a "diocese".
O episcopado é o último grau do sacramento da ordem. O bispo é a autoridade máxima da Igreja em ordem , jurisdição e magistério.Ao bispo compete governar a diocese com o auxílio dos ordinários. O bispo exerce o poder executivo, legislativo e judiciário na Igreja.
Aos bispos compete ministrar os sacramentos da ordem e da crisma de modo exclusivo. Ordenar diáconos e conferir ministérios como o leitorato e o acolitato permanente também é função exclusiva do bispo.
Aos bispos e presbíteros cabe a ministração do sacramento do batismo, da eucaristia , da confissão, do matrimônio e da unção.
Diáconos e leigos em situação especial podem batizar, diáconos devidamente autorizados podem celebrar matrimônios.
A ordenação de presbíteros e a sagração de bispos se realiza no ritual da missa.
Os bispos são herdeiros dos apóstolos e formam o colégio episcopal - ao lado do papa a autoridade máxima da Igreja.
Os bispos só se submetem ao poder papal ou às decisões da cúria romana e do colégio universal.
O arcebispo não é superior ao bispo, sua função é de caráter administrativo.
O arcebispo coordena as dioceses de uma província eclesiástica, convoca o sínodo provincial, define as linhas pastorais, trata da educação confessional nas escolas de ordens religiosas.
Define também temas com os superiores das ordens religiosas e pode exercer funções dos bispos dos ritos orientais sem representação no país.
Os cardeais não são superiores aos bispos , eles são bispos que auxiliam mais de perto o papa ocupando cargos na cúria romana e possuem a prerrogativa até os 75 anos, de eleger o sucessor do Pontífice.
Somente o papa tem o poder de erigir, modificar ou suprimir uma diocese. Atualmente, estão em vigor três modos de nomear os bispos: - eleição, nomeação, ou designação da autoridade civil; - legítima eleição, segundo o direito universal, confirmada pelo romano pontífice, que confere a missão canônica; - livre nomeação por parte do romano pontífice; é o modo principal em uso na Igreja latina.
O bispo deve ter pelo menos 35 anos de idade e 5 de sacerdócio ativo.
Os bispos distinguem-se em: - diocesanos sufragâneos, quando dependem de um metropolita e fazem parte de uma província eclesiástica; - diocesanos isentos, quando dependem diretamente da Santa Sé; - titulares coadjutores, quando servem de ajuda ao bispo diocesano, com direito de sucessão; - titulares auxiliares, de ajuda ao bispo diocesano, com ou sem faculdades especiais; - eméritos, se perderam o ofício por limite de idade ou por renúncia aceita.
Faltas passíveis de excomunhão para leigos e clérigos: agredir física ou moralmente os bispos da Igreja , desrespeitar os sacramentos, consagrar bispo sem autorização, defender heresias, apoiar ou realizar aborto, etc.
Excomungado o leigo ou clérigo perde todos os direitos e deveres de um católico não pode participar na missa , receber sacramentos, ser padrinho, receber indulgências ou um funeral cristão.
Padres casados ficam impedidos de exercer suas funções eclesiásticas, só podem ministar os sacramentos em caso extremo onde haja risco de vida.
Padres com pecados graves e com pecado mortal não deve ministrar os sacramentos , mas se ministrá-los , eles são válidos , se obedecidas às regras e às fórmulas exigidas , até vir uma punição de foro externo da autoridade eclesiástica .
Documentos da Sé Apostólica dando novas instruções e regulamentações
ao sacramento da ordem e seu ritual, sob o pontificado de Paulo VI
Carta Apostólica "Ministeria Quaedam" 15 de agosto de 1972, traça as normas sobre as ordens menores , o subdiaconato e o diaconato;
Motu Proprio "Ad Pascendum" de 15 agosto de 1972, versa sobre o ritual do sacramento da ordem de modo geral , extinguindo a tonsura, substituída pelo juramento público à Igreja , exigindo , outrossim , o celibato ao diácono.
Carta Apostólica "Sacrum diaconatus ordinem" de 18 de junho de 1967, apresenta norma canônica sobre o diaconato permanente,
Costituição Apostólica "Pontificalis romani recognitio" de 18 de junho de 1968, estabelece o novo rito para o conferimento da ordem do diaconato, do presbiterato e do episcopado.
Paulo VI também criou a figura do ministro extraordinário da eucaristia que pode ser exercido por um leigo e tem por objetivo auxiliar o sacerdote na ministração dos sacramentos na missa ou nos lares das pessoas impossibilitadas de ir à missa, havendo um acólito deve ser dada preferência a esse ministro ordinário para exercer funções de um ministro extraordinário.
O objetivo principal é falicitar o acesso ao santíssimo sacramento a todos os fiéis.